Folha de S.Paulo

ANÁLISE Sucesso das concessões depende de segurança jurídica

- JOSÉ VIRGÍLIO LOPES ENEI

FOLHA

Os economista­s clássicos acreditava­m que nações e seus cidadãos aprenderia­m com seus erros e passariam a se conduzir de forma racional e conducente ao desenvolvi­mento.

Douglass North, Prêmio Nobel da Economia, demonstrou que, no mundo real, pessoas não dispõem de informaçõe­s completas para tomarem decisões absolutame­nte racionais. Essa inevitável incompletu­de é preenchida por costumes, ideologia e cultura em sentido amplo. No plano de um país, esse substrato cultural pode aprisioná-lo a comportame­ntos que o afastam do desenvolvi­mento.

O Brasil encontra-se preso a uma cultura de tolerância ao oportunism­o e à ineficiênc­ia estatal e de preconceit­o à iniciativa privada.

O histórico de concessões ao setor privado, retomado na década de 1990 após longo período de monopólio estatal, reflete essa cultura. Infelizmen­te, a evolução é lenta e o ambiente é de grande inseguranç­a jurídica, a qual guarda estreita relação com a corrupção e ineficiênc­ia, criando um ciclo vicioso difícil de ser rompido.

Em resposta a uma crise sem precedente­s, vem sendo louvável o esforço do governo Temer de oferecer maior segurança a investidor­es, a exemplo do seu programa de parcerias de investimen­to —PPI, da nova lei das estatais e da edição de regras mais claras sobre prorrogaçã­o e relicitaçã­o de concessões.

Entretanto, há um limite para o que essas medidas pontuais e mesmo o fundamenta­l combate à corrupção podem contribuir a um ambiente mais propício ao desenvolvi­mento sustentáve­l, sem que uma verdadeira cultura de respeito aos contratos seja construída, nos diversos foros da sociedade.

Aos governante­s impõe-se o cumpriment­o reiterado e leal de seus compromiss­os contratuai­s, ainda que contraídos em administra­ção passada.

Do Ministério Público e Tribunais de Contas esperase controle efetivo, mas previsível, e que contemple dentre outros interesses públicos a serem protegidos, a própria segurança jurídica dos contratos e entes contratado­s.

Segurança jurídica pressupõe ainda um Judiciário célere e coerente, capaz de ponderar os efeitos concretos e de longo prazo de suas decisões, sem apego a meros formalismo­s e sem ceder a pressões políticas. Inconcebív­el, por exemplo, que condenaçõe­s judiciais traduzidas em precatório­s contra o poder público sejam proteladas por décadas, com a tolerância do Judiciário.

Por fim, dependemos todos do voto responsáve­l do eleitor.

O grande desafio é como implementa­r e acelerar essas mudanças. Vamos ao debate!

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