Região de fronteira e famílias pobres sofrem impacto maior
Estudo deve ser base para criar compensações aos afetados
Os ganhos ambientais do fim do desmatamento no país seriam inegáveis, mas as consequências negativas recairiam sobre o PIB regional de Estados de fronteira e os trabalhadores com menor qualificação, geralmente de famílias mais pobres.
“É nosso papel compensar os grupos afetados. Não é justo quem está no interior de Mato Grosso pagar a conta de um benefício que é de todos”, disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, durante a apresentação dos resultados do estudo “Qual o Impacto do Desmatamento Zero no Brasil?”, patrocinado pela ONG Instituto Escolhas.
No cenário mais radical, no qual o desflorestamento pararia imediatamente, os salários de trabalhadores menos qualificados poderiam sofrer redução acumulada de 2,61% até 2030. Isso porque esse tipo de mão de obra é mais presente na agropecuária do que em outros setores.
No mesmo cenário, o PIB acumulado entre 2016 e 2030 do Acre, outro Estado de fronteira, sofreria uma queda de 4,53%. São Paulo, por exemplo, teria redução de 0,38%.
“É uma perda assimétrica para as regiões onde a expansão da fronteira agrícola é maior”, disse Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, engenheiro agrônomo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Para Lisboa, o emprego que um produtor perdeu no interior do Pará surgirá em Belém, mas com um alto custo de transição, porque as comunidades são distantes. “Quando a atividade econômica vai embora, cria-se um cinturão de pobreza, contaminando o próprio ambiente.” NOVA DISCUSSÃO Segundo a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-AC), que estava na plateia do evento, para cessar completamente o desmatamento são necessários incentivos e assistên- cia técnica para pequenos produtores. “Precisamos de regras que sejam perenes, que não fiquem mudando ao sabor dos ventos das fragilidades políticas e eleitorais.”
Fernando Sampaio, diretor-executivo do projeto PCI (Produzir, Conservar e Incluir), do governo do Estado de Mato Grosso, que também compareceu ao debate, considera que o estudo precisa ser aprofundado pelos municípios interessados.
“Há cidades que enxergam a abertura de áreas para a agropecuária como a única oportunidade de desenvolvimento e ninguém oferece uma alternativa econômica que gere renda com a floresta de pé.”
Para Sérgio Leitão, diretorexecutivo do Instituto Escolhas, o estudo fornece material que pode dar início a essa discussão.
“Ele foi feito para conversar com o produtor rural, com quem toma a decisão de fazer o desmatamento pela necessidade da sua atividade econômica”, declarou.
“
Há áreas legais disponíveis para desmate e locais em que elas já acabaram. No Tocantins, por exemplo, já não há área com alta aptidão agrícola. Qualquer desmatamento será retirar a floresta “
A comunidade internacional deve participar do processo [de zerar o desmatamento] para que isso se converta em acesso do Brasil a novos mercados e em valor agregado para o nosso produto “
Cerca de 48% das áreas privadas são reservas florestais; isto é igual a três vezes o tamanho da França. É preciso ter compensações para os donos não desmatarem, comooseloverde
SÉRGIO LEITÃO diretor-executivo do Instituto Escolhas
DULCE BENKE
diretora de projetos da Sociedade Rural Brasileira (SRB)
SYLVIA COUTINHO
presidente da UBS Brasil