Folha de S.Paulo

Calibre 38 com numeração raspada, foram apreendida­s. A mãe de Gallo morreu há dois anos, após ataque cardíaco.

- JÚLIA BARBON

Umhomemde2­8anosmatou o pai, duas irmãs, um vizinho e o namorado de sua ex em uma série de ataques na manhã desta segunda (30) em Campinas, no interior de SP.

Ele também atirou na exnamorada, que está hospitaliz­ada. Em seguida, depois de perseguiçã­o policial, se matou com um tiro na cabeça.

O atirador foi identifica­do como Antônio Ricardo Gallo, que trabalhava como segurança de um banco, segundo conhecidos ouvidos pela Folha.

Ele havia sido expulso de casa depois de ser preso por porte ilegal de arma, em maio, de acordo com uma tia.

Como era vigilante, Gallo tinha licença para usar armas só no serviço. Segundo a tia, ele dizia que as irmãs tinham feito a denúncia e que, quando saísse da prisão (o que ocorreu após três semanas), iria “matar todo mundo”.

Gallo também tinha passagem por agredir o pai —que, há seis meses, conseguiu medida protetiva para impedir o contato com o filho. O atirador também teria tido uma briga por causa de som alto com o vizinho que matou.

Uma das irmãs, Ana Cristina Gallo, 37, foi morta na rua, quando ia para o trabalho.

A segunda, Alexandra Gallo, 34, morreu com um tiro na cabeça na casa da família, que foi incendiada pelo homem.

O pai, Antônio Gallo, 60, catador de reciclávei­s, foi morto na frente de casa, com um tiro na cabeça. Em seguida, o atirador entrou na casa do vizinho Elenilson Freitas do Nascimento, 31, que foi mor- to por ele dentro do quarto.

Uma terceira irmã do atirador, que tem síndrome de Down, e os sobrinhos dela, de 4 a 11 anos, que estavam na casa incendiada, sobreviver­am.

O crime ocorreu por volta das 6h30 no Jardim Conceição, bairro de classe média, no distrito de Sousas.

Uma vizinha chamou a polícia. Gallo fugiu e foi até a casa de uma ex-namorada, Camila Fiorini, 26, na Vila Padre Manoel de Nóbrega, a cerca de 16 km da casa de seu pai.

Lá, ele atirou nela e no namorado dela, William de Oliveira Costa, 28 —que morreu horas depois de ser socorrido. Fiorini estava internada em estado grave no Hospital de Clínicas da Unicamp.

Carros da polícia e o helicópter­o Águia, da Polícia Militar, que já perseguiam Gallo, o encontrara­m no local.

Ele se matou na frente dos policiais. As armas usadas nos crimes, dois revólveres de OUTRO CASO Campinas foi alvo de outra tragédia em razão de briga de família no último Réveillon.

Na ocasião, um homem invadiu um imóvel no Jardim Aurélia e matou a tiros a exmulher, o filho de 8 anos e outras dez pessoas no local. Em seguida, ele se matou.

DE SÃO PAULO

Os policiais, na ponta do sistema de segurança pública e sem o controle das autoridade­s, são atualmente os responsáve­is diários pela segurança do Rio.

É o que diz a cientista social Julita Lemgruber, que na década de 1990 dirigiu o sistema penitenciá­rio do Estado e foi ouvidora da polícia e hoje coordena o Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania) da Universida­de Cândido Mendes.

“É como se as autoridade­s dissessem: a gente não tem grana mesmo, então vocês aí se virem. É o policial que está negociando o cotidiano da segurança no Rio, sem o controle de quem, em princípio, comanda a área”, afirmou.

A ausência, “há anos”, de políticas de segurança como parte da crise no Estado foi discutida no debate “Quais as perspectiv­as para o Rio”, feito em parceria entre a Folha e o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamen­to) nesta segunda (30) em São Paulo, com mediação do repórter especial Marcos Augusto Gonçalves.

Em sua fala, a economista Eduarda La Rocque destacou o excesso de “intermedia­ções” no setor público, que impede que o dinheiro chegue onde precisa.

“Há tantos técnicos bons, mas é tudo feito para não funcionar”, disse ela, que foi secretária municipal de Fazenda de 2009 a 2012, na gestão Eduardo Paes (PMDB). “O que a gente precisa é de ‘desinterme­diação’, porque fica tudo nesse bolo e o dinheiro não chega na conta.”

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Denny Cesare/Código19/Folhapress Policiais e peritos examinam uma das vítimas do atirador Antonio Ricardo Gallo, 28, em Campinas, nesta segunda (30)

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