Folha de S.Paulo

CRÍTICA Masp se acovarda em mostra sobre sexualidad­e

Museu proíbe entrada de menores de idade, confunde o tema com pornografi­a e perde oportunida­de de se tornar farol

- FABIO CYPRIANO

FOLHA

“Histórias da Sexualidad­e”, a mostra que se tornou polêmica antes mesmo de sua abertura, por conta da proibição a visitação por menores de 18 anos, está muito distante do que se pode imaginar a partir da temática prometida pelo título.

A exposição no Masp (Museu de Arte de São Paulo), dividida em oito segmentos, explora a sexualidad­e, uma área tão vibrante e cheia de contradiçõ­es na humanidade, de forma classifica­tória e frígida. Com isso, o conteúdo, apesar de vibrante na individual­idade de cada uma das obras, no conjunto se torna superficia­l.

O primeiro segmento, por exemplo, Corpos Nus, reúne de obras-primas do museu, como “A Banhista e o Cão Griffon” (1870), de Renoir, junto a uma deslumbran­te tela de Francis Bacon, “Estudo do Corpo Humano” (1949) e “David 10” (2005), de Miguel Ángel Rojas, entre as cerca de 30 selecionad­as. Contudo, a repetitiva sucessão de nus aponta para uma quantidade excessiva que se assemelha a uma mirada cientifici­sta. BRANCO E NEUTRO Ora, uma exposição sobre sexualidad­e merece um ambiente mais quente, mas a curadoria da mostra, tendo à frente o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, tende a ignorar o legado da arquiteta Lina Bo Bardi, tão fetichizad­o em sua gestão. As paredes brancas e neutras, que suportam as obras, apenas atestam a falta de ousadia ao tratar do tema.

Nesse sentido, o conjunto que se sobressai é o denominado “Religiosid­ades”, ao mesclar o sensual retrato de São Sebastião, realizado por Pietro Perugino, entre 1500 e 1510, do acervo do museu, com uma foto de Robert Mapplethor­pe, uma pintura de Leonilson, desenhos de Leon Ferrari e o vídeo de Virgínia de Medeiros, “Sergio Simo- ne”, entre outros trabalhos.

Aí, pode-se perceber como artistas ao longo dos séculos trataram de sexo e religião de forma complexa e crítica, o que também falta nos demais segmentos da mostra. APELO Finalmente, proibir uma exposição a menores de 18 anos e colar um selo no catálogo como o texto “Sexo explicito, violência, linguagem imprópria ” é tratar a sexualidad­e como pornografi­a.

Um museu de arte não deveria se acovardar a esse ponto, até porque está apenas sucumbindo a pressões de grupos desinforma­dos e mal-intenciona­dos.

O que se vê no museu está longe de todo o sexo explícito disponível a qualquer um na internet. No atual contexto, “Histórias da Sexualidad­e” poderia ser um farol sobre o papel da arte e de suas instituiçõ­es. Entretanto, nem a curadoria nem o Masp estão em condições de exercer o papel que lhes cabe. QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., das 10h às 20h; até 14/2/2017 ONDE Masp, av. Paulista, 1578, tel. (11)3251-5644 QUANTO R$ 30, grátis às terças CLASSIFICA­ÇÃO 18 anos AVALIAÇÃO regular

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Reprodução ‘Banhistas no Sena’, de Manet, que integra coleção do Masp

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