CRÍTICA Ópera de Bizet preenche ano fraco para gênero
Soprano Camila Titinger brilha em remontagem leve e colorida de ‘Os Pescadores de Pérolas’ no Municipal de SP
FOLHA
Foi em 1995 que o dramaturgo Naum Alves de Souza (1942-2016) —já conhecido àquela altura por espetáculos como “O Grande Circo Místico” e “Falso Brilhante” — dirigiu para o Theatro Municipal de São Paulo a ópera “Os Pescadores de Pérolas”, de Bizet (1838-75).
Além da direção cênica, Naum foi o responsável pela criação de cenários e figurinos da produção, que marcou época e foi retomada pela primeira vez dez anos depois.
Agora, por iniciativa do maestro Jamil Maluf e da Orquestra Experimental de Repertório —a orquestra jovem da casa—, o Municipal recupera novamente a montagem, desta vez como homenagem ao encenador, que morreu no ano passado.
Dirigida por João Malatian, a remontagem revela uma concepção leve, colorida e ágil, com unidade e contraste entre os atos. Predominam no cenário as formações rochosas à beira mar —no “longínquo Ceilão”, onde se passa a história.
No palco, a natureza se movimenta com sutileza, qualificando o canto. A cena inicial, por outro lado, com os mergulhadores nadando em suspensão, deve ter sido muito mais impactante nos anos 90.
Jamil Maluf controla totalmente o drama, o que quer dizer que não apenas rege com desenvoltura mas tem amplo domínio sobre a narrativa: faz música com o tea- tro e, simultaneamente, torna os instrumentos personagens.
Na estreia (30) o som foi compacto, com contrastes dinâmicos e belos duetos de violino e viola, flauta e harpa (apesar de que as trompas poderiam soar mais homogêneas na cavatina de Leila, no segundo ato).
Escrita pelo jovem Bizet, a ópera já carrega ingredientes que seriam potencializados, anos depois, na “Carmen”.
O Coral Paulistano, preparado por Naomi Munakata, mostrou sonoridade extrovertida e dicção clara e cuidadosa (em francês).
É muito bom constatar o rápido amadurecimento da jovem soprano Camila Titinger (no papel de Leila). Se em 2015 —dirigida no mesmo papel pelo cineasta Fernando Meireles no Theatro da Paz, em Belém— ela revelava qualidades e também alguma timidez diante do forte elenco masculino, agora brilha com personalidade.
Sua voz ganhou sutilezas e requintes, e não seria demais afirmar que ela já é uma de nossas melhores cantoras.
O tenor Gustavo Quaresma (como Nadir) não esteve muito à vontade na estreia, especialmente no primeiro ato, mas é possível que sua performance evolua ao longo das