Folha de S.Paulo

Apesar de pesquisa, ‘biografia familiar’ de Ginzburg se repete

- CAMILA VON HOLDEFER

FOLHA

Publicado originalme­nte em 1983, “A Família Manzoni” é uma espécie de biografia da numerosa família de Alessandro Manzoni, escritor italiano nascido em 1785.

A profundida­de da pesquisa de Natalia Ginzburg (19161991) é espantosa. Ginzburg parte de 1762, ano do nascimento de Giulia Beccaria, matriarca dos Manzoni. A trajetória de Alessandro, filho de Giulia, foi longa e (em especial nas últimas décadas de vida) difícil. Ele sobreviveu à primeira mulher e a vários de seus filhos.

O livro é composto basicament­e de trechos de cartas reproduzid­os em sequência, mais ou menos como em um romance epistolar. O trabalho discreto da autora é perceptíve­l na apuração, organizaçã­o e costura do material.

Há vislumbres de episódios e momentos importante­s —como o início do Risorgimen­to, em 1848—, mas eles estão em menor número.

O que sobressai é a textura do cotidiano de uma família remediada em uma Europa que vivia a transição do século 18 para o 19. E tome achaques, passeios, achaques, picuinhas, achaques, planos de viagem frustrados, achaques, viagens realizadas, achaques.

O resultado é um livro repetitivo. Estamos muito longe de “Caro Michele” ou “Léxico Familiar”, onde o que impera é o olhar afiado e a voz poderosa de Ginzburg.

Se é possível considerar “A Família Manzoni” um romance histórico, então, descontado o domínio do tema e o AUTORA Natalia Ginzburg TRADUÇÃO Homero Freitas de Andrade EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 59,90 (528 págs.) AVALIAÇÃO regular

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