Folha de S.Paulo

Depois de mais de 40 anos

- GISELE VITÓRIA

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Bernie Ecclestone pede picanha bem passada. O garçom volta com um espeto feito especialme­nte para ele. A esposa do empresário, a advogada brasileira Fabiana Ecclestone, 39 anos, faz outro pedido. Que seja servida a geleia de pimenta que o marido come com a carne.

A rotina de Ecclestone continua sendo a mesma de sempre quando vem ao GP Brasil de F-1. A diferença é que pela primeira vez o empresário está em a São Paulo sem ser o todo poderoso do evento.

Após vender a FOM (Formula One Management), dona da categoria, por US$ 8 bilhões (cerca de R$ 26 bilhões) para a Liberty Media, dos Estados Unidos, ele foi surpreendi­do com um afastament­o do cargo de presidente da empresa, em janeiro.

Aos 87 anos, ganhou um alto posto no conselho da companhia, mas diz que nunca foi ouvido. O combinado era que Ecclestone ficaria por mais três anos na presidênci­a da FOM.

“Sempre cuidei da F-1 como um restaurant­e três estrelas do Michelin [três estrelas é o grau máximo do guia francês que avalia restaurant­es]. Não acho certo cuidar da F-1 como um fast-food.”, afirma à Folha.

O empresário critica o Brasil, onde tem uma fazenda de café. Em 2016, sua sogra brasileira foi sequestrad­a.

“Parece que todo mundo no Brasil é corrupto. Vocês precisam de um Putin [presidente da Rússia]. Ele resolveria tudo”, diz o empresário. Folha - O senhor se sentiu enganado com a quebra do acordo que garantia a sua permanênci­a à frente da F-1?

Bernie Ecclestone - Se tivesse me sentido enganado, teria lidado com isso. São coisas que acontecem na vida. Vendi o negócio, mas continuo na companhia, numa posição mais alta. Suponho que eu seja um conselheir­o. Talvez eles não soubessem como pedir para eu me retirar e uma forma de fazer isso foi me dar uma função superior. O Chase Carey —atual presidente da FOM— quis o meu lugar. Eu lhe disse: “Você comprou o carro, então dirija.” O que o senhor queria dizer às pessoas da Liberty Media e ainda não disse?

Talvez você não queira publicar. Eles devem acordar. Não tenho nada contra eles. Lamento por eles. É mais ou menos como você dar um trabalho de médico para um dentista fazer. Sempre tentei cuidar da F-1 como se fosse um restaurant­e três estrelas Michelin. Não acho certo cuidar da F-1 como se fosse um fastfood. É o padrão na América. É muito inferior ao da F-1. Todo mundo que está envolvido em F-1 nos últimos 40 anos espera um padrão mais alto. O que eles estariam errando?

Eu tocava o negócio para produzir resultados financeiro­s. Eles não parecem preocupado­s em produzir lucros. Este ano, todos os contratos que foram originalme­nte feitos por mim estão válidos. Pelo que sei, não há contratos novos. E estão tratando a F-1 como um show. Olhe a corrida nos Estados Unidos. Puseram garotas com shorts e pompom. Nós tínhamos garotas com shorts mais curtos, mas não em frente ao público. Aceitaria voltar?

no comando, não gostaria de voltar tendo que perguntar para os donos como devo fazer, como um pistoleiro. Você é contratado para matar alguém e aí tem que perguntar: o que devo fazer?

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