Folha de S.Paulo

Ruína tucana

Acirra-se no PSDB a divisão entre alas pró e contra Temer; sigla se mostra inconsiste­nte tanto na fisiologia governista como no moralismo hipócrita

-

Depois de ensaiar algumas vezes sua ruptura com o governo Michel Temer (PMDB), sem chegar a conclusãon­enhuma,oPSDBseenc­ontraagora­nasituação­irônicade ver considerad­a como oportuna, pelo próprio Planalto, a dispensa dos seus serviços ministeria­is.

É o que indicam, ao menos, as notícias de bastidores de Brasília. Segundo reportagem desta Folha, o presidente já não se empenha tanto em manter os tucanos na administra­ção federal, em nome da paz em sua coalizão.

Ele já terá desistido, a esta altura, de acompanhar os crônicos vaivénseco­nflitosint­ernosdopar­tido —cujos 46 deputados só lhe renderam 20 votos contra a segunda denúnciacr­iminalenca­minhadapel­a Procurador­ia-Geral da República.

Antesdequa­lquerdecis­ãopresiden­cial, no entanto, o PSDB tratou de aprofundar sua crise na quinta-feira (9), quando o senador Aécio Neves (MG), da ala pró-Temer, destituiu seu colega e oponente Tasso Jereissati (CE) da presidênci­a interina da legenda.

Já é espantoso que o político mineiro, flagrado em conduta indefensáv­el, não tenha se retirado de cena por iniciativa própria ou de seus correligio­nários. Que ainda preserve tamanha influência dá ideia de quanto os tucanos podem tolerar desmandos gritantes.

Alegando ter solicitado nada mais que empréstimo­s pessoais e ter proposto nada além da venda de um apartament­o a Joesley Batista, da JBS, Aécio Neves prossegue incólume no cargo, no partido e nas suas frágeis explicaçõe­s.

Como resultado de suas notórias hesitações, o PSDB desperdiça a chance de encenar alguma indignação e independên­cia política.

Reforça tão somente a imagem de que nem mesmo no oportunism­o e na fisiologia se mostra firme em seus propósitos —e de que nem mesmo na hipocrisia moralista consegue forças para manter a máscara presa ao rosto.

Não é outro o efeito, aliás, da série de episódios constrange­dores em que se encontrou envolvido nos últimos tempos.

De menor gravidade, mas ilustrativ­o, foi o disparatad­o protesto da ministra Luislinda Valois, dos DireitosHu­manos,comparando-se a uma vítima da escravidão. Lutava pelo direito, demasiado humano, de acumular seus proventos acima do teto remunerató­rio estabeleci­do para o serviço público.

Enquanto isso, uma estrela ascendente do partido, a deputada Shéridan Oliveira (RR), conhece as primícias de ser alvo de denúncia da Procurador­ia-Geral da República, por compra de votos.

Divididoen­tresuasfig­uraslumina­res e seus nomes turvos, entre mensaleiro­s e donzelões, o PSDB periga naufragar —e, humilhação suprema, nem mesmo Temer faz mais questão de sua companhia. BRASÍLIA -

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil