Balançando as redes
SÃO PAULO - Sobrou para as redes sociais. Se até há pouco eram vistas como promessa de liberdade, agora são apontadas como ameaça à democracia. São acusadas tanto de fomentar a crescente polarização como de terem se convertido no celeiro onde surgem e prosperam as “fake news”. Será que é para tanto?
Nãohádúvidadequevivemosnuma época de radicalismos. Meu palpite pessoal é o de que a internet tem algo a ver com isso. Mas, se formos em busca de evidências, veremos que os processos pelos quais isso ocorre não são tão simples nem diretos como normalmente se presume.
Num trabalho cujas conclusões são bem contraintuitivas, Boxell, GentzkoweShapiromostraramque, nos EUA, a polarização cresceu mais justamentenosgruposdemográficos que utilizam menos a internet, como os idosos com mais de 75 anos. Não é o suficiente para inocentar as redes sociais, mas já seria o bastante para nos fazer procurar por explicações um pouco mais sofisticadas.
Quanto às “fake news”, embaladas tanto pela conexão russa como pelos tuítes de Trump, elas são, com o perdão do trocadilho, reais. Mas é importante notar que mentiras, boatos e campanhas de desinformação sempre existiram. A internet apenas os torna mais efetivos.
No fundo, tudo é uma questão de aprendizado. Várias pesquisas mostramqueaspessoasjásederamconta de que não podem confiar em tudo o que leem na internet e nas redes. Resta saber como vão se organizar para lidar com isso, mas é quase certo que tomarão atitudes, tanto no plano individual como no de sociedade. É pouco provável que dê para resolver o problema, mas deve ser possível reduzir sua escala.
A democracia não passa por turbulênciasporcausadainternet,mas porque ela é um regime imperfeito, cheiodevulnerabilidades.Sóqueela também tem a virtude de adaptar-se com facilidade, sobrevivendo a muitos dos ataques a que é submetida. helio@uol.com.br