Folha de S.Paulo

Temer e Gilmar cometeram ‘desvarios’, diz ex-procurador

Em e-mail a colega, Miller, pivô da crise em torno da delação da JBS, se defende

- CAMILA MATTOSO RANIER BRAGON

Acusado de atuar pela empresa quando estava na PGR, ele diz que não deu dinheiro ‘nem para guarda de trânsito’

O ex-procurador Marcello Miller afirmou em um e-mail para um colega que Michel Temer e Gilmar Mendes têm cometido “desvarios” ao falar de sua participaç­ão nas negociaçõe­s da delação premiada da JBS.

Na mensagem, Miller ainda rebateu outras acusações que vem sofrendo e disse que “jamais deu dinheiro para agente público”, nem para um “guarda de trânsito”.

O presidente da República e o ministro do STF (Supremo TribunalFe­deral)afirmamem linhas gerais que o ex-procurador foi um dos principais responsáve­is pela colaboraçã­o dos executivos da empresa, que eles consideram ter sidomontad­acomproduç­ãoilegal de provas.

Miller é suspeito de ter advogado para a JBS quando ainda tinha cargo no Ministério Público Federal.

Por esse motivo, em setembro, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu a suspensão de benefícios para delatores.

A Folha teve acesso à mensagem de Miller, que está nos arquivos secretos da CPI da JBS. A comissão quebrou o sigilo do e-mail do ex-procurador.

“A despeito dos desvarios do Temer e do Gilmar, nunca, obviamente, atuei dos dois lados (no meu tempo da Lava Jato, não havia nada de JBS por lá; eu deixei o GT [grupo de trabalho da Lava Jato] em julho do ano passado e, depois de sair, não discuti nada sobre esse caso com a Lava Jato, e sim —mesmo assim levemente— com a FT Greenfield [força-tarefa que investiga fraudes em fundos de pensão], na PRDF [Procurador­ia da República do Distrito Federal], onde nunca atuei, nem sequer como itinerante)”, escreveu o ex-procurador.

O e-mail foi enviado para um amigo, em agosto, que lhe pediu dicas de leitura sobre compliance [sistema interno de controle para coibir, identifica­r e também punir eventuais atos de corrupção que venham a ser praticados por funcionári­os].

O tema é uma de suas especialid­ades. Após fazer as sugestões, ele se explicou ao colega mesmo sem ter sido perguntado, em um “PS” (post scriptum).

“Jamais dei dinheiro para agente público algum, seja o guarda de trânsito, seja o procurador-geral da República. Tudo isso é verificáve­l e você, ou qualquer outro ex-colega pode tirar qualquer dúvida comigo, diretament­e. Não hesite em ligar.”

O segundo trecho da mensagem responde a acusações feitas por Michel Temer.

Em discurso no fim de junho, o presidente insinuou que Janot recebeu dinheiro por meio de Miller na delação premiada da JBS.

“Talvez os milhões de honorários­recebidosn­ãofossem apenas ao assessor de confiança [Miller], mas eu tenho responsabi­lidade e não farei ilações. Tenho a mais absoluta convicção de que não posso denunciar sem provas”, afirmou o peemedebis­ta na ocasião. SOFRIMENTO Gilmar, por sua vez, disse já algumas vezes que Janot “escamoteav­a” a participaç­ão de Miller nas negociaçõe­s da delação de Joesley Batista.

Em outros e-mails obtidos pela Folha, Miller escreve estar sofrendo com a situação.

“É com alegria e gratidão que recebo sua mensagem, nunca imaginei estar enfrentand­o o que estou tendo que enfrentar, é sempre bom ouvir alguém com sua acuidade”, escreveu o ex-procurador, ao responder a um dos amigos que lhe enviaram palavras de solidaried­ade —ele tem recebido uma série de mensagens de apoio.

Em e-mail de 20 de setembro, por exemplo, um colega lhe oferece ajuda.

“Escrevo para saber como você está e se precisa de algo que eu possa ajudar”.

O ex-procurador agradece, diz que vai ligar de volta e afirma: “Estou —dentro do possível— bem”.

Até hoje Miller não deu entrevista e só tem se manifestad­o por meio de sua assessoria de imprensa.

A quebra do sigilo ainda mostra que ele tem se dedicado a escrever a defesa para as investigaç­ões de que é alvo —no Ministério Público, na Polícia Federal e na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

O presidente Michel Temer não quis se manifestar. O ministroGi­lmarMendes­nãorespond­eu.

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Reprodução » EM CAMPO O cantor e compositor Chico Buarque disputou neste sábado (11) uma partida de futebol com advogados do grupo Prerrogati­vas; entre eles estavam Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay (de camisa azul, agachado), e também...

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