Folha de S.Paulo

Cármen evita pautar prisão após 2ª instância

Presidente do STF não deve pôr em discussão revisão da polêmica medida neste ano

- LETÍCIA CASADO

A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia, não vai pautar neste ano nenhuma ação que leve à retomada da discussão sobre prisão após condenação em segunda instância, apurou a Folha.

Duas ações sob a relatoria do ministro Marco Aurélio estão em fase de instrução processual e ainda não foram liberadas para a pauta.

Mesmo que esta etapa seja finalizada a tempo de os casos irem a plenário em 2017, Cármen Lúcia não vai incluilos na agenda da corte.

Existe a possibilid­ade de o Supremo discutir o assunto por iniciativa de outro integrante da corte. Bastaria um ministro aproveitar um pedido de habeas corpus, incluir o tema e mandar o caso para ser discutido em plenário. Ainda assim, caberia à presidente pautar a discussão.

Bastaria um ministro aproveitar um pedido de liberdade provisória(habeascorp­us)para levantar o debate sobre a execução provisória da pena.

No entanto, a Folha apurou que nenhum ministro está disposto a levar o assunto à pauta desta maneira.

Em2016,oSupremode­cidiu que a sentença deveria começar a ser cumprida depois que umtribunal­referendas­seadecisão de primeira instância.

Nos bastidores, comentase que Cármen Lúcia tem a intenção de manter o tema distante do plenário até o fim de seu mandato, em setembro, para evitar uma mudança na jurisprudê­ncia recente formada pelo Supremo Tribunal Federal.

Um dos temas mais polêmicos para a corte, a discussão pode esbarrar em uma eventual candidatur­a do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva para o Planalto na eleição de 2018.

Pré-candidato à Presidênci­a, Lula foi condenado em julho em primeira instância na Lava Jato, pelo juiz Sergio Moro, do Paraná.

A sentença determina que ele cumpra 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP). Ele também foi proibido de ocupar cargo público por sete anos.

Lularecorr­euaoTRF-4(Tribunal Regional Federal da 4ª Região). A média de tempo do colegiadop­araanalisa­rrecurso da Lava Jato é de um ano.

O processo chegou em agosto. Assim, às vésperas da próxima eleição presidenci­al, a situação pode ainda estar indefinida.

Mesmoqueot­ribunalman­tenha a condenação de Lula, o ex-presidente pode recorrer aos tribunais superiores e pedir liminar para suspender os efeitos da condenação e da inelegibil­idade.

A avaliação interna no Supremo é que qualquer cenário de condenação de Lula em segundo grau —ainda que ele consiga uma liminar para concorrer à eleição— vai pressionar a corte a discutir novamente a decisão sobre execução provisória da pena. REVISÃO Em conversas reservadas, ministros dizem que, caso o TRF-4 mantenha a condenação, será difícil evitar uma nova discussão sobre o tema.

A tendência, afirmam, é que a jurisprudê­ncia seja alterada se o Supremo voltar a debater o tema: o condenado poderá responder em liberdade até ter recurso analisado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O julgamento de 2016 formou a jurisprudê­ncia com placar apertado.

Seis ministros votaram a favor da execução provisória da pena: Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Teori Zavascki, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia.

Cinco foram contra e defenderam que o réu recorra em liberdade até julgado o último recurso: Rosa Weber, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowsk­i, Marco Aurélio e Celso de Mello.

A nova composição da corte e eventuais mudanças de posição de ministros podem alterar o resultado.

Gilmar alterou seu entendimen­to e passou a conceder habeas corpus a condenados em segundo grau. Rosa tenderia a votar a favor da prisão, com o argumento de que uma corte não deve alterar jurisprudê­ncia recente, segundo pessoas a par do assunto.

Alexandre de Moraes, que assumiu a cadeira de Teori, morto em acidente aéreo em janeiro, disse em sua sabatina no Senado que a prisão após condenação em segunda instância “não é inconstitu­cional”.

 ?? Suamy Beydoun - 7.out.2017/AGIF/Folhapress ?? A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia
Suamy Beydoun - 7.out.2017/AGIF/Folhapress A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil