Justiça põe políticos argentinos na mira
Enquanto homens fortes do kirchnerismo são presos, surgem escândalos envolvendo pessoas próximas a Macri
Analistas afirmam que argentinos passaram a ter nova visão sobre corrupção, o que afetou candidatos em eleição
Nas últimas semanas, os argentinos viram cenas pouco comuns. Dois membros da cúpula dos governos de Néstor e Cristina Kirchner (20032015) foram colocados em prisão preventiva enquanto são investigados por corrupção.
São Amado Boudou, vicepresidente no segundo mandato de Cristina (2011-2015), na cadeia sob a acusação de enriquecimento ilícito e tráfico de influência, e o ex-ministro do Planejamento Julio de Vido, investigado por desvio de verbas públicas e recebimento de propina de empresas em licitações.
Ambos se dizem inocentes, alegam ser alvo de perseguição política e pedem que a detenção seja revogada, pois não concordam com a avaliação dos juízes de que podem atrapalhar as investigações.
Boudou e De Vido são os mais conhecidos entre outros ex-funcionários kirchneristas na mira da Justiça (leia ao lado). Outra é a própria Cristina, que por ora responde em liberdade a várias causas.
Ela, porém, ganhou foro privilegiado por ter sido eleita senadora. Para ser julgada a partir de dezembro, quando assume o cargo, a Justiça terá de pedir ao Congresso que retire sua imunidade.
Cristina também se diz vítima de perseguição política.
Os casos da chamada “corrupção K” vêm sendo amplamente expostos pela imprensa —especialmente por aqueles que, durante o kirchnerismo, sofreram pressão verbal e financeira de Cristina e hoje estão alinhados ao presidente Mauricio Macri.
Analistas ouvidos pela Folha concordam que a revelação dos casos de corrupção teve impacto nas eleições legislativas de 22 de outubro, em que a coalizão governista (Mudemos) saiu vencedora.
“Há uma novidade na percepção do argentino com relação à corrupção, embora poucos acreditem que nossa Justiça tenha independência e que essas ações possam levar a uma condenação real. Mas o kirchnerismo perdeu votos com a exposição dos casos recentes”, explica o analista político Patricio Giusto.
Antes da eleição, a corrupção aparecia em terceiro lugar entre as principais preocupações dos argentinos, depois da inflação e da insegurança. Hoje, já superou a insegurança e está em segundo lugar, de acordo com pesquisa do instituto Management & Fit.
Cristina Kirchner Investigações e suspeitas dos dois lados do espectro político
É processada por fazer movimentações de câmbio beneficiando-se de informação privilegiada, investigada pelo uso dos hotéis da família para lavagem de dinheiro e por evasão de divisas ao enviar € 55 milhões para fora do país com a ajuda de um amigo empreiteiro
Mauricio Macri
Presidente está sendo investigado por suposto benefício ao Grupo Macri, de sua família, em acordo que perdoou 98,8% de uma dívida da empresa com a União, referente à compra e posterior falência do Correio Argentino durante as privatizações da década de 1990
PATRICIO GIUSTO
analista político