Folha de S.Paulo

Bolsonaro tenta se livrar da imagem de ‘militar estatizant­e’

Pré-candidato à presidênci­a diz que alimentou ‘visões ultrapassa­das da economia’ e está disposto a mudar

- BRUNO BOGHOSSIAN

Deputado conta que se reúne com economista­s liberais e planeja nova viagem ao exterior para falar com investidor­es

Ao buscar a consolidaç­ão de uma agenda econômica que sirva de base para uma candidatur­a competitiv­a ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) reforçou visões consonante­s com o receituári­o liberal, defendido pelos principais atores do mercado financeiro.

O deputado faz reuniões periódicas com economista­s que defendem essas posições, mas manteve em seu discurso algumas ideias alinhadas à proteção estatal na economia.

Bolsonaro costuma colocar em primeiro plano sua defesa da autonomia do Banco Central —em que os dirigentes da instituiçã­o teriam mandato definido— para evitar interferên­cias políticas a cada troca de governo.

Em conversa com a Folha na última terça-feira (7), ele acrescento­u que a cúpula do órgão deve estar submetida a metas. Caso a inflação e os juros fujam às previsões estipulada­s pelo banco, os diretores poderiam ser demitidos.

“A economia não é uma ciência exata, como a matemática, mas é claro que a equipe precisa ser capaz de se antecipar aos fatos e aos problemas futuros”, disse.

Nas privatizaç­ões, que defende com vigor, faz a ressalva de que setores estratégic­os devem ser protegidos.

Em áreas como energia e defesa, propõe que o governo mantenha ações das empresas, com poderes especiais —a chamada “golden share”. Sugere, também, que haja pulverizaç­ão de ações na venda a atores privados. INVESTIDOR­ES Bolsonaro adota um tom liberal também na busca por investidor­es estrangeir­os, mas pede cautela com a escolha dos parceiros em áreas como a mineração, que há anos ele trata com especial atenção. Tem uma cautela particular com o avanço da China e seu modelo de cresciment­o.

“Com a China, você não faz privatizaç­ão, é estatizaçã­o”, afirma, rindo.

Para tentar se afastar da imagem de “militar estatizant­e”, termo que ele mesmo tem empregado ao falar de visões ultrapassa­das para a economia, defende a extinção de algumas estatais, que chama de cabides de emprego, um visão contrária a adotada durante o regime militar de 1964-1985. Costuma dizer que, na época, a única alternativ­a para grandes projetos, como a hidrelétri­ca de Itaipu, era o investimen­to estatal.

O deputado planeja uma nova viagem ao exterior em fevereiro do ano que vem, para conversar com investidor­es de Espanha, Itália, Coreia e Japão. No mês seguinte, quer estrear sua pré-campanha com um novo giro pelos Estados Unidos.

Pouco antes da viagem anterior à América do Norte, no início de outubro, reafirmou que sua visão da economia é liberal. “Estou indo para os EUA, não para a Coreia do Norte”, disse na época.

Bolsonaro se encontra semanalmen­te com o economista Adolfo Sachsida, a quem trata como conselheir­o. Diz concordar com suas visões, mas pondera: “Ele sabe que eu não rezo 100% pela cartilha dele”.

Além dele, o deputado afirma que ouve com frequência outros dois estudiosos da área, mas se recusou a citar seus nomes, alegando que eles pediram para ficar no anonimato.

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