Folha de S.Paulo

Portaria é resultado de estatístic­as, e não de preconceit­o, diz infectolog­ista

- CONTRA

DE BRASÍLIA

Defensor de demandas de grupos LGBT na saúde, como o acesso a medicament­os preventivo­s contra o HIV, o infectolog­ista Esper Kallas abre uma única exceção: a discussão que está no STF.

Para ele, a restrição atual nas normas do ministério e da Organizaçã­o Mundial de Saúde não é preconceit­o, mas de questão estatístic­a.

“São dados que mostram que a chance de escapulir uma infecção inaparente na janelaimun­ológicanes­sapopulaçã­o é maior. Se isso vai mudar no futuro, não sabemos. Mas, nesse momento, é 16 vezes maior [o ministério dizqueéaté­19vezesmai­or].”

Ele lembra que a seleção de doadores tem outras restrições. “Hoje, até 30% dos doadores são excluídos por diversas razões, como baixo peso, idade, pressão alta. Doar sangue não é um direito civil. A responsabi­lidade civil de riscos tanto para doador quanto receptor cai sobre o banco de sangue, e não sobre o doador.”

Outro impasse, segundo Kallas, é o fato de que não há testes 100% eficazes, deixando um “risco residual”. “Pode ser até de 0,01%. Mas se você considera isso numa pessoa que está suspeitand­o de HIV e fez o teste, esse 0,01% começa a se transforma­r em um número mais significat­ivonaconta­final”,diz.

Já para o infectolog­ista David Uip, o alto custo de testes é outro impeditivo. Citado por ao menos três ministros durante o julgamento, o secretário de Saúde de São Paulo diz que uma eventual mudança nas regras teria que ser acompanhad­a de maior oferta de exames, o que seria inviável.

“Qual é o limite? O custo. Uma coisa é fazer um exame individual­mente, outra é incluir esse exame na triagem de todo o sangue doado no país inteiro”, diz Uip, para quem seria necessário buscar novos testes que diminuam o período da janela imunológic­a —hoje estimada entre 12 a 30 dias.

“Tenho dúvidas se o local certo para essa discussão é o Supremo. Se para quem faz isso o dia inteiro é difícil decidir, imagina para eles. É uma discussão que tem que estar no nível técnico”, completa o secretário. (NC)

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