Folha de S.Paulo

Ação policial mata 7 em baile funk do Rio elevamedoa­favela

Com ajuda das Forças Armadas, Polícia Civil diz que visava traficante­s; no dia anterior, PM foi morto na mesma região

- LUIZA FRANCO

Moradores afirmam que agentes entraram no morro atirando; polícia afirma que apenas revidou disparos

Uma ação da Polícia Civil, com participaç­ão das Forças Armadas, deixou sete mortos em um baile funk na madrugada deste sábado (11) no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolit­ana do Rio.

O episódio, que levou medo à comunidade, ocorreu um dia após um PM ser morto na região, que também foi alvo de megaoperaç­ão na terça (7), com tropas do Exército e da polícia fluminense no combate ao tráfico de drogas.

A polícia afirma que a ação visava prender dois traficante­s que estavam no baile funk, que esperou ele esvaziar de público, que foi recebida por tiros e que só revidou.

Questionad­a, ela só confirmou no final da tarde que as mortes haviam sido resultado de operação policial —e disse que a ação de terça foi “um reconhecim­ento de terreno” para a deste sábado.

Já moradores disseram que blindadose­ntraramnac­omunidade às 4h, que houve tiroteio e correria. Ao jornal “O Globo”, alguns disseram que havia agentes encapuzado­s e que teriam feito ameaças.

Segundo a polícia, quatro dos sete mortos tinham passagem pela polícia por homicídio e tráfico de drogas. Os dois traficante­s que seriam alvo da operação fugiram — conhecidos como N2 e Schumacher e que seriam ligados ao Comando Vermelho.

A polícia nega que a ação tenha sido uma resposta à morte do soldado Joubert Lima, 26, baleado no pescoço em confronto com criminosos na manhã de sexta-feira (10). Segundo a corporação, a operação já estava planejada antes da morte dele.

Na ação, os agentes apreendera­m um fuzil, sete pistolas, cinco carregador­es, munições, rádios transmisso­res, drogas e celulares.

Amulherdeu­mdosmortos, que não quis se identifica­r, questionou à Folha ,no IML, a ação policial. “Não vou negar que meu marido era traficante, mas isso não justifica isso que fizeram. Entraram atirando e atingiram pessoas que não tinham nada a ver. Agora a favela está toda com medo da polícia.”

São Gonçalo é a segunda maior cidade fluminense e uma das regiões mais conflagrad­as devido à violência. O Rio enfrenta grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança pública.

Um outro efeito dessa crise tem sido a disparada dos índices de criminalid­ade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas.

Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram 117 PMs assassinad­os no Estado. A situação de inseguranç­a levou Michel Temer (PMDB) a autorizar a utilização das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Rio até 2018.

Ao mesmo tempo, os mortos em operações policiais dispararam —no começo do ano, a alta beirava 80%.

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Cléber Júnior/Extra/Agência O Globo Familiares vão ao IML para reconhecer corpos de mortos em baile funk em São Gonçalo (RJ)

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