Emirados Árabes planejam cidade marciana
Empresa europeia de arquitetura é contratada para construir protótipo de colônia espacial no deserto de Dubai
Plano aponta 2117 para início da construção em Marte, com estruturas impressas em 3D com poeira do planeta FOLHA
Dubai, cidade já conhecida por obras arquitetônicas que transbordam ostentação, como o maior shopping e o prédio mais alto do mundo, está prestesaganharsuamaisinusitada construção: o protótipo de uma cidade marciana.
Oprojetofazpartedoplano arrojadodosEmiradosÁrabes Unidos (EAU) de fundar uma cidade inteira no planeta vermelho em um século. O país ambiciona enviar sua primeira espaçonave não tripulada a Marte, um pequeno orbitador de 1.500 kg, em 2020.
“Esperamos no século vindourodesenvolverciência,tecnologiaeapaixãodanossajuventude pelo conhecimento”, disse, via Twitter, o sheik Mohammed bin Rashid al Maktoum, vice-presidente e primeiro-ministro dos EAU, ao anunciarainiciativaMars2117.
Em Dubai, o protótipo, batizado de Mars Science City (Cidade da Ciência de Marte), será um centro de educação, pesquisa e divulgação da exploração espacial, orçado em US$ 140 milhões.
Para desenvolver o projeto, os árabes contrataram a empresadearquiteturadinamarquesa BIG, liderada por Bjarke Ingels. A construção, que consistedecincodomosinterligados ocupando uma área de 56,8 mil m2, será realizada ao longo dos próximos anos —ainda não há cronograma oficialmente definido.
“Um dos desafios da Mars Science City é desenvolver a tecnologia para formar um complexourbanocomasconformações que possibilitam sustentar a vida em Marte”, disse Ingels à Folha.
“Estamos estudando como os prédios podem operar por si mesmos com uma rede elétrica independente e água reciclável,comoprecisariaserno planeta vermelho. O plano é criar uma cidade com a maior eficiênciaderecursospossível eumaeconomiacircular:fazer o máximo com o mínimo.”
Todas as estruturas pensadas para a cidade marciana em Dubai têm em vista os desafios que o planeta vermelho oferece. Um dos mais complicados para uma moradia permanente em Marte é a maior exposição à radiação cósmica (o planeta não tem um campo magnético, de forma que a chuva de partículas ameaçadoras à saúde vindas do espaço é bem maior que na Terra) e o risco de impactos de meteoritos, já que a atmosfera lá é menos densa que a da Terra e oferece menor proteção.
O interior das estruturas, claro, terá de ser pressurizado com uma atmosfera suficiente para a respiração humana, e isso naturalmente conduz ao uso de domos — forma que distribui de forma mais efetiva a pressão exercida pelo ar do lado de dentro.
“Estamostrabalhamoscom domos como a geometria ideal para estruturas acima do solo, e eles devem ser impres- sosem3Dcomregolito—apoeira marciana— por meios robóticos”,explicaIngels.“Após a impressão, um domo inflável feito de plástico reciclável, ultraleve e transparente seria adicionado para pressurizar as estruturas. Juntos, esses elementos formam um ambiente habitável e protegido da radiação e de meteoros.” ESCALÁVEL O projeto foi concebido paraircrescendoconformeademanda —algo pouco importante para a Mars Science City,masfundamentalparauma cidade marciana de verdade.
Segundo o arquiteto dinamarquês, as estruturas a serem construídas em Dubai terão capacidade para abrigar mil pessoas, se estivessem em Marte. “Mas os EAU querem, em 2117, começar a construir uma cidade inteira para 600 mil pessoas em Marte”, diz.
Para isso, a ideia é ampliar o número de domos a fim de abrigar mais e mais habitantes. Claro, seja qual for a escala, há uma grande distância —medida em dezenas de milhões de quilômetros— entre construir uma cidade marciana em Dubai e uma em Marte. Mas Ingels acredita que vai acontecer.
“Parece impensável agora, mas quando europeus começaram a colonizar a Austrália, levava seis meses para chegar lá. E a jornada para Marte não é muito mais longa, e não é muitomaisperigosadoqueera ir à Austrália naquela época.”
Ele vê o projeto como uma grande oportunidade para também melhorar a vida aqui mesmo na Terra. “As mesmas tecnologias e princípios que aplicaremosemMartenospermitirão ser melhores guardiões do ecossistema do qual nos beneficiamos hoje.”
Área construída:
56.810 m2 Custo: US$ 140 milhões
Capacidade:
cerca de mil pessoas Serão cinco domos interligados, com funções diferentes: As estruturas são uma combinação de domos pressurizados e construções subterrâneas, para se proteger do inóspito ambiente marciano –sobretudo a radiação