Folha de S.Paulo

Mais longevo evento de dança tenta escapar à extinção

Catalão Jordi Galí é destaque no 10º Festival de Dança Contemporâ­nea de SP, com orçamento magro em 2017

- IARA BIDERMAN

FOLHA

A 10ª edição do Festival Contemporâ­neo de Dança de São Paulo devia ser uma celebração em grande escala. Mas a mostra do gênero há mais tempo em continuida­de na cidade reflete a crise nas artes, em especial na dança.

Iniciado nesta sexta (10), o festival, pensado inicialmen­te com uma programaçã­o extensa, terá apenas três espetáculo­s (dois internacio­nais e um nacional). A mostra de novos criadores, um dos pontos que sempre o distinguir­am, acabou “amputada”, segundo os organizado­res.

Neste ano, o festival não teve apoio público ou privado. A realização só foi possível com suporte de instituiçõ­es como o Sesc-SP e o Centro de Referência da Dança, que oferecem espaço às apresentaç­ões e cachê, e o Consulado da França, que financiou a vindadeart­istasestra­ngeiros.

O orçamento, que há dois anos era de R$ 400 mil, reduziu-se a cerca de R$ 60 mil, segundo Amaury Cacciaro Filho, diretor-geral do festival.

“A situação está crítica, com o cancelamen­to do patrocínio do Itaú Cultural, que tinha apoiado a edição de 2015”, diz Cacciaro Filho. Segundo ele, em 2016 a prefeitura cedeu só o teatro da Galeria Olido, “mas a sala estava sem som e sem luz”.

Os tempos difíceis levaram os organizado­res a transforma­r o festival em um evento bienal após a edição de 2018, para a qual contam com edital de patrocínio junto ao Centro Cultural Banco do Brasil. RESISTÊNCI­A A programaçã­o de 2017 é considerad­a um “ato de resistênci­a” por Cacciaro Filho e pela responsáve­l pela direção artística, Adriana Grechi. “Três trabalhos bem simbólicos desta tentativa de destruição das artes”, diz ela.

O equilíbrio frágil e provisório de forças inspira “T”, de Jordi Galí, catalão radicado naFrança.Noespetácu­lo,que terá última exibição neste domingo (12), no Teatro Sérgio Cardoso, ele cria um ambiente de materiais cotidianos que afetam e são afetados pela presença de seu corpo.

A vinda de Galí foi financiada pelo Institut Français du Brésil e pelo Consulado Geral da França em São Paulo.

É o mesmo caso de Ivana Müller, croata que trabalha em Paris. Nos dias 18 e 19, ela apresenta “We Are Still Watching”, no Sesc 24 de Maio.

“A obra de Müller é política. A criação de uma coreografi­a é em tempo real, o público participa de cada tomada de decisão”, diz Grechi.

Representa­ndooBrasil,Eliana de Santana apresenta “A Emparedada da Rua Nova”.

A obra —inspirada no livro homônimo de Carneiro Vilela (1846-1913), sobre uma jovem emparedada viva a mando do próprio pai— tem apresentaç­ões nos dias 16 e 17, no Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo. QUANDO até 19/11 ONDE Teatro Sérgio Cardoso, r. Rui Barbosa, 153, tel. (11) 38838080; Centro de Referência da Dança, baixos do viaduto do Chá, s/n, tel. (11) 3214-3249; Sesc 24 de Maio, r. 24 de Maio, 109, tel. (11) 3350-6300 QUANTO de entrada franca a R$ 30 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

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