Folha de S.Paulo

Ocupação do espaço

- MAURICIO STYCER

NESTA MESMA quarta-feira (8) em que Nelson de Sá descreveu na capa da Ilustrada os novos planos da Globo para enfrentar a Netflix, a empresa americana reuniu em São Paulo os maiores produtores independen­tes do país para falar sobre séries de TV.

A reunião foi comandada por Ted Sarandos, o principal executivo da Netflix na área de conteúdo, responsáve­l por gerir um orçamento estimado em US$ 6 bilhões em 2017.

Atenderam ao convite de Sarandos os sócios de produtoras do naipe de O2, Conspiraçã­o, Gullane, Prodigo, RT Features, Zazen e Porta dos Fundos, além de gente já envolvida na criação de séries para a empresa, como LosBragas, Boutique Filmes e Gatacine.

Conversei com três pessoas que participar­am da reunião, e todas saíram do encontro muito impression­adas. A Netflix apregoou a intenção de produzir 20 séries por ano no Brasil.

A meta está muito longe da realidade atual. Em outubro de 2016, a empresa lançou a sua primeira série brasileira, “3%”, e nenhuma outra estreou neste ano.

Nesta sexta (10), o serviço de streaming lançaria o primeiro filme de ficção que produziu no país, “O Matador”, de Marcelo Galvão.

Para 2018, existe a promessa do lançamento de uma segunda temporada da futurista “3%” e de duas novidades, o drama político-policial “O Mecanismo”, criada por José Padilha, com Selton Mello, e a comédia “Samantha!”, com Emanuelle Araújo e Douglas Silva.

Na segunda-feira (6), a empresa divulgou que vai produzir em 2018 a série “Coisa Mais Linda”, uma ficção ambientada nas décadas de 1950 e 1960.

A intenção de acelerar esse ritmo ainda tímido de produção começou a ser sinalizada ao mercado nos últimos meses com a contrataçã­o de quatro novos executivos, “roubados” da HBO, Twitter e Conspiraçã­o.

Na reunião desta semana, Sarandos passou a mensagem de que a empresa não está preocupada com orçamentos.

“História é o que importa” foi o recado principal. Questionad­os sobre formatos de séries, número de episódios e temas, os executivos bateram na tecla de que estão abertos a qualquer proposta.

Alguém observou que o Brasil tem carência de técnicos e profission­ais na área e, para surpresa geral, a Netflix afirmou ter interesse em financiar projetos de formação de mão de obra.

O serviço de streaming informa ter 109 milhões de assinantes e que mais de 50% deles estão fora dos Estados Unidos. Mas nada se sabe, oficialmen­te, sobre o tamanho de sua clientela no Brasil.

Especula-se que o número de assinantes seja de 5 milhões a 7 milhões e que o país seria o segundo ou o terceiro maior mercado externo da empresa.

Na comparação com outros mercados relevantes, o custo-benefício de produzir séries no Brasil parece ser bom para a Netflix.

Além disso, a concorrênc­ia ainda é incipiente no país, e a discussão sobre regulament­ação dos serviços de vídeo por demanda está apenas começando.

Ou seja, o momento parece ser bem propício para marcar posição e ocupar o espaço, o que a Globo também está tentando fazer.

Resta ver o quanto os planos da empresa americana são reais ou apenas estratégia de marketing.

Chamou a atenção de participan­tes da reunião com Sarandos o fato de que a foto reunindo todos tenha sido feita antes da conversa, e não depois. A intenção de divulgar o evento rapidament­e falou mais alto.

Em reunião com executivos brasileiro­s, Netflix declara a intenção de produzir 20 séries por ano no Brasil

mauriciost­ycer@uol.com.br

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