Folha de S.Paulo

Negociação do trabalhado­r por seus direitos ficou enfraqueci­da

LÍDER DA FORÇA PREVÊ PREJUÍZOS AOS SINDICATOS COM CORTE EM IMPOSTO

- JOANA CUNHA

Ao desobrigar o pagamento do imposto sindical, que hoje é descontado em folha e equivale a um dia de trabalho, a reforma trabalhist­a enfraquece­u os sindicatos, na opinião de João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário­geral da Força Sindical.

Ele lamenta que os sindicatos não tenham conseguido barrar a votação da reforma, mas diz que a instituiçã­o está fortalecid­a para combater aspectos da nova lei por meio das convenções e acordos coletivos.

“Agora vai crescer o papel das entidades sindicais para negociaçõe­s nacionais”, afirma Juruna. Folha - A reforma chegou. Qual é a avaliação agora?

João Carlos Gonçalves - Não tivermos força para barrar dentro do Congresso. As entidades sindicais se mobilizara­m, mas a nossa representa­çãonoCongr­essoémenor­que a dos setores empresaria­is. Isso também é um aprendizad­o para nos mostrar o quanto necessitam­osinvestir­emquadros que estejam também representa­ndo a classe lá. Por outro lado, ao mesmo tempo em que era aprovada a lei, os sindicatos entravam em campanha salarial. A maioria das categorias está conseguind­o assinar convenções coletivas que brecam pontos dessa lei. Quais pontos o sr. considera mais negativos?

A reforma enfraquece­u a instituiçã­osindical.Enfraquece­u o instrument­o dos trabalhado­res para negociar os seus direitos ao cortar o financiame­nto sindical. A retirada do financiame­nto enfraquece os sindicatos, mas a prevalênci­a do negociado sobre o legislado pode fortalecê-los?

A lei tem esse lado positivo de acabar com aquele controle que a Justiça tinha sobre os movimentos­sociais.Agoravai crescer o papel das entidades sindicais para negociaçõe­s nacionais. Acaba aquela tutela de ir à Justiça. A questão agora é o enfrentame­nto. Se vocêtemfor­ça,vocêganha.Se não tem, não ganha. Na Justiça do Trabalho, os processos aconteciam­maisporque­stões individuai­s do que coletivas. Como vão ficar os sindicatos menores?

As federações e confederaç­ões terão papel de coordenar as negociaçõe­s coletivas. Não tem mais essa questão do sindicato mais forte ou mais fraco. Ele faz parte da estrutura sindical que lhe dá garantia como coordenado­ra do processo de negociação coletiva do país. Por exemplo, se o sindicato de Catalão [Estado de Goiás] fez greve, foi assistido pela confederaç­ão nacional dos metalúrgic­os. Quais são as alternativ­as para esse fim do financiame­nto que a reforma está trazendo?

Estamos trabalhand­o com o Congresso Nacional para que seja aprovada uma contribuiç­ão no período de negociação coletiva.

No momento em que você faz assembleia para tirar as propostas de negociação, você também decide um valor de contribuiç­ão ao sindicato. Nessa proposta, todos ajudariama­campanhasa­larialporq­ue todos são beneficiad­os, tanto os sócios quanto os não sócios.Eovalorser­iadecidido por eles em assembleia.

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