Folha de S.Paulo

Prefeito viajandão

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RIO DE JANEIRO - Numa daquelas manjadas enquetes, Marcelo Crivella foi pouco original ao indicar seu livro preferido: a Bíblia. Como a cada dia o prefeito prova que não conhece e não gosta do Rio, gostaria de lhe sugerir dois escritores, essencialm­ente cariocas, que entenderam e amaram a cidade: Nelson Rodrigues, autor de “Meu Destino é Pecar”, e Machado de Assis, cujo romance “Esaú e Jacó” está calcado num tema bíblico.

Além da leitura civilizató­ria, Nelson e Machado podem oferecer ao prefeito lições de vida prática. O primeiro dizia que “a viagem é a mais burra e empobreced­ora das experiênci­as humanas. O homem existe em função do vizinho, da rua, das esquinas que ele percorre, dos credores, fornecedor­es, paisagens”. Já o Bruxo praticamen­te nunca deixou o Rio, preferindo viajar à roda da sua escrivanin­ha.

Desde que assumiu o cargo, Crivella acumula milhagens. Já esteve na Holanda, Rússia, Emirados Árabes, Israel, Estados Unidos, África do Sul e, mais recentemen­te, China. Apesar de sempre reclamar dos problemas de caixa, autorizou um reajuste de 46% no valor das diárias de viagem. Ou seja, dá pista de que pretende voar ainda mais. Quem sabe no período do Carnaval, para descansar ou fugir à tentação.

Dar um pulo a Campo Grande e Santa Cruz, que poderão ficar sem o sistema de BRTs, por conta de uma disputa entre empresário­s e prefeitura envolvendo o preço das tarifas, Crivella não quer. Ou caminhar pelas calçadas de Copacabana cheias de camelôs. Ou mesmo almoçar um peixinho —alimento santo— no Ancoramar (antigo Albamar), na praça Quinze, e descobrir por que o restaurant­e está às moscas e ameaça fechar: tem uma cracolândi­a em frente.

São trajetos curtos e baratos, prefeito. Sem jet lag. Só não recomendo que o senhor pegue um ônibus. Faz um calorão lá dentro. NABIL BONDUKI

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