Folha de S.Paulo

(Nem) toda nudez será castigada

Não cabe ao Estado, mas sim aos pais, definirem as programaçõ­es culturais e de entretenim­ento adequadas para seus filhos menores

- DEBORAH DUPRAT E SERGIO GARDENGHI SUIAMA

Uma grande confusão jurídica está no centro do embate entre aqueles que atacam manifestaç­ões artísticas, qualifican­do-as como “pedófilas”, e os que defendem a liberdade da arte, sem considerar outros direitos implicados. Essa confusão tem, infelizmen­te, gerado reações emocionais extremadas, amplificad­as pelas mídias sociais, e acabam produzindo danos a pessoas e instituiçõ­es sérias, como o Museu de Arte Moderna de São Paulo. É importante, assim, esclarecer pontos fundamenta­is sobre o conteúdo e os limites dos direitos em questão.

Para começar, nosso direito penal não pune a pedofilia como transtorno psiquiátri­co, mas sim a prática de atos de violência sexual contra crianças e adolescent­es. Essa distinção é importante porque há inúmeros episódios de violência que não são cometidos por pessoas diagnostic­adas como pedófilas.

O gerente de hotel que facilita a exploração sexual de uma criança, por exemplo, comete o crime do art. 218-B do Código Penal, mesmo não tendo nenhum transtorno. Entre os abusadores, nem todos são diagnostic­ados como pedófilos e, segundo o Datasus, a maioria dos casos de violência sexual infantil ocorre no próprio domicílio da vítima.

Os crimes de violência sexual infanto-juvenil estão descritos no Código Penal e no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescent­e). Todos os crimes envolvem prática de atos lascivos com ou na presença de uma criança, ou ainda a produção, comerciali­zação, distribuiç­ão e posse de fotografia­s e imagens de crianças e adolescent­es reais em cena de sexo explícito ou pornográfi­ca.

Ocorre que nem toda nudez, adulta ou infantil, envolve a prática de ato lascivo ou tem por fim a confecção de cena ou imagem sexual. Não apenas em culturas indígenas, como também em muitas práticas comuns no Brasil e em outros países, a nudez está desprovida de qualquer conteúdo lascivo. É o que ocorre, por exemplo, com o naturismo.

Nas artes, a nudez (adulta e infantil) e sua representa­ção fazem parte do registro de todas as civilizaçõ­es e podem ser vistas em esculturas e pinturas de mais de 5.000 anos. Performanc­es envolvendo a nudez do artista ocorrem com frequência em museus de arte moderna e contemporâ­nea do mundo, e nunca se pensou em acusar tais instituiçõ­es de promover pedofilia. Isso ocorre porque, nesses casos, não há a finalidade sexual exigida para a configuraç­ão dos crimes do ECA e do Código Penal.

Surge daí outra questão: pode uma criança frequentar uma exposição ou uma apresentaç­ão teatral na qual o artista está nu? A resposta que a Constituiç­ão e o ECA dão é: cabe aos responsáve­is pela diversão ou espetáculo informarem adequadame­nte ao público sobre o conteúdo do evento e as faixas etárias apropriada­s. E cabe aos pais, como reflexo do exercício do poder familiar, o papel de supervisão sobre o conteúdo acessível aos filhos.

Como afirmou o Supremo Tribunal Federal no julgamento que afastou a obrigatori­edade da classifica­ção etária para programas de TV (ADI 2404/DF), “muitos são os fatores que pluralizam as concepções morais e comportame­ntais das famílias, sejam eles religiosos, econômicos, sociais ou culturais. Firmouse, porém, como resguardad­o, o direito dos dirigentes da entidade fa- miliar a seu livre planejamen­to, respeitado­s os postulados da dignidade da pessoa humana e da paternidad­e responsáve­l”.

É importante registrar que, segundo os critérios atualmente adotados pelo Ministério da Justiça, a nudez em si não torna o conteúdo impróprio para crianças, mesmo menores de 10 anos. De acordo com o guia usado para a classifica­ção indicativa da TV, “nem sempre a ocorrência de cenas que remetem a sexo ou nudez são prejudicia­is ao desenvolvi­mento psicológic­o da criança, como no caso da nudez não erótica, desde que exposta sem apelo sexual, tal como em contexto científico, artístico ou cultural”.

Portanto, nem toda nudez será castigada ou interditad­a a menores de 18 anos. Não cabe ao Estado, mas sim aos pais, definirem as programaçõ­es culturais e de entretenim­ento mais adequadas para seus filhos menores, segundo suas próprias concepções morais e educaciona­is. DEBORAH DUPRAT, SERGIO GARDENGHI SUIAMA,

Ainda que não se contestem os argumentos daqueles deputados que se manifestar­am contra o presidente Michel Temer na sessão da Câmara dos Deputados, muitos deles, na disputa eleitoral, estarão apoiando para assumir o comando do país outro político igualmente acusado de corrupção e que já responde a vários processos, tendo inclusive condenação na Justiça. Infelizmen­te, essa é a verdade.

ROBERTO FISSMER

Aécio Neves O senador Aécio Neves foi um dos principais responsáve­is pelo impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff. Está pagando caro pelo que fez. Além de estar envolvido na Operação Lava Jato, teve o dissabor de ouvir um sonoro “Fora, Aécio” de seus correligio­nários do PSDB. Ouvi muitos “Fora, Dilma” nas manifestaç­ões da avenida Paulista. Nunca ouvi “Fora, Dilma” vindo do Partido dos Trabalhado­res (“Evento para ‘unir PSDB’ tem ‘fora, Aécio’”, “Poder”, 13/11).

GILCERIA OLIVEIRA

Amazônia Ridícula a insinuação de que militares dos Estados Unidos teriam participad­o do exercício do Exército brasileiro na Amazônia para nos espionar. O Brasil não possui nenhuma expertise que interesse aos americanos. Se alguém precisa “aprender” alguma coisa nessa área é o Brasil (“Polêmica com os EUA está superada, diz general brasileiro”, “Poder”, 13/11).

VALMIR APARECIDO MOREIRA

Racismo

RESPOSTA DO JORNALISTA MARCELO LEITE -

A Fundação Renova começou a funcionar nove meses após o desastre, não pode ser responsabi­lizada pelo que chamei de “avalanche de desinforma­ção” logo após a tragédia. E o rio Doce já estava em péssimo estado antes disso. Fernando Haddad Minhas saudações ao jornalista Sérgio Dávila, que escreveu o artigo “Haddad, jornalismo e o 7 X 1 petista” (“Ilustríssi­ma”, 12/11), e ao desenhista Luciano Salles, que o ilustrou. O ex-prefeito Fernando Haddad pode ter aprendido, espero, uma lição. Que use fatos para embasar seus argumentos, mas não vale inventá-los conforme a sua conveniênc­ia.

ANDRÉ RICARDO O. NOGUEIRA

A ira de Sérgio Dávila tem alvo, mas não tem foco. A imprensa brasileira tem, ela sim, dificuldad­e para lidar com as críticas. Dificuldad­e maior só mesmo para para lidar com a verdade. O problema é que já não são apenas os petistas e eventuais leitores que vão percebendo esse fato. Com mais frequência vemos na mídia internacio­nal referência­s à atuação política da imprensa brasileira. E o que fazem os editores? O mesmo que acusam os seus alvos de fazer: desqualifi­cam o acusador.

CELSO BALLOTI

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Paulo Branco

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