Folha de S.Paulo

Corrupção sistêmica? E a culpa é do STF?

Várias lendas vêm sendo espalhadas contra a corte, como a de que é conivente com as grandes autoridade­s; que se mostre um caso

- LENIO LUIZ STRECK www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O professor Joaquim Falcão publicou contundent­e artigo nesta Folha (10/11) dizendo que, em nosso país, o direito à defesa dos direitos individuai­s tem sido bastante assegurado, mas o combate à corrupção sistêmica, não. Disse que o réu, hoje, não é A e nem B. É a corrupção sistêmica. Nesse ponto, advogados seriam contratado­s mais para estender os processos do que para defender os réus. Adiar é vencer —esta seria, diz Falcão, a meta. E, para isso, entraria em campo o Supremo Tribunal Federal, que é o culpado pela impunidade, uma vez que o “nosso direito processual é moldado pelo individual­ismo liberal”.

Esse tipo de tese ou discurso também é velho. Para combater o crime, especialme­nte a corrupção “sistêmica”, o devido processo legal de cunho individual­ista é insuficien­te, ineficaz. Necessitar­íamos —e isso fica implícito em Falcão— de um discurso punitivo 3.0, um direito com velocidade adaptada às necessidad­es fáticas.

Lembro que, por vezes, alguns discursos sociologis­tas caem nessa armadilha. O direito é caminho muito curto para alcançar fins “justos”. Constituiç­ão e Códigos viram filigranas que atrapalham. Até um sociólogo de esquerda, Boaventura Santos, caiu nessa trampa, em 2009, ao dizer que, em Portugal, o proces- so Casa Pia poderia ser resolvido mais rapidament­e se juízes tivessem mais poder, isto é, se não tivessem tantos prazos e garantias a favor dos réus. Como se cumprir o protocolo processual fosse coisa ruim. Compreendo que sociólogos digam isso, mas juristas não devem fazê-lo.

Esse discurso de que garantias atrapalham e estimulam a impunidade já está ficando cansativo. Trata-se de um discurso outsider, que serve sempre para o “outro”.

Qualquer pessoa acusada gostaria —e gosta— de ter a seu favor todos os mecanismos processuai­s, como ocorre em qualquer democracia. É uma falácia dizer que nosso sistema processual estimula a impunidade, por ser de índole liberal. Qual seria o processo “não liberal”? Um direito totalitári­o? Um direito que suprimisse instâncias ou que ignorasse (ou admitisse) prova ilícita? Algo como uma das cláusulas do Pacote Anticorrup­ção?

E, é claro, o julgamento de Aécio Neves veio à tona na fala de Falcão. Como se o STF tivesse errado, e isso fosse produto de uma conspiraçã­o antidemocr­ática —nas palavras de Falcão, o caso Aécio foi uma operação antidemocr­ática (sic).

Ora, parece que, para o articulist­a, só se cumpre a Constituiç­ão Federal quando se a lê de forma finalístic­a. Como se a Constituiç­ão fosse instrument­o de combater crime. Não. A Constituiç­ão é garantia contra o poder autoritári­o estatal. É remédio contra maiorias. Se necessário, deve-se usar a Constituiç­ão contra o clamor das ruas.

Várias lendas vêm sendo espalhadas contra o STF. Uma, dizendo que o foro privilegia­do é responsáve­l pela impunidade, quando se sabe que os processos de primeiro grau prescrevem em número bem maior que no STF. E não há recurso contra decisões do STF.

Outra é que o STF é conivente com grandes autoridade­s, sendo leniente. Que se mostre um caso. Ao contrário: poderia dizer que a presunção da inocência foi fragilizad­a por atendiment­o ao clamor público. E desse julgamento Falcão gostou. Não seria melhor, então, acabar com a CF? Pôr o quê no lugar? Um discurso sociológic­o-teleológic­o? LENIO LUIZ STRECK,

Apesar de textos tolerantes da ombudsman (“Âncoras ao mar”, “Poder”, 12/11) e de Demétrio Magnoli (“William e o ‘homem novo’”, “Poder”, 11/11), a minha conclusão é simples. Formadores importante­s de opinião não podem dar declaraçõe­s, ainda que privadas, como a de William Waack ou a de Boris Casoy, citadas nas colunas. Chamem de vingança do anônimo, de inveja do sucesso, do que quiserem, mas, definitiva­mente, elas compromete­m a credibilid­ade.

MARCIO MACEDO

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Diferentem­ente do que consta no artigo “Haddad, jornalismo e o 7 X 1 petista”, de Sérgio Dávila, a pesquisa de avaliação sobre o programa De Braços Abertos foi realizada pela Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD), sob a coordenaçã­o da professora Taniele Rui, e não pela Open Society, que foi apenas a financiado­ra. Além disso, a negociação com a Folha se deu sobre a exclusivid­ade na divulgação dos dados, praxe na imprensa, e não envolveu a Prefeitura de São Paulo, que também não participou da pesquisa.

MAURICIO FIORE,

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