Folha de S.Paulo

‹ Banco declara que operações foram regulares

- FÁBIO FABRINI

Auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que o Banco do Brasil concedeu irregularm­ente um financiame­nto à socialite e apresentad­ora de TV Val Marchiori. O relatório diz que os gestores da instituiçã­o descumprir­am normas internas ao liberar R$ 2,79 milhões para uma empresa da qual ela é sócia.

O caso foi revelado pela Folha em 2014. O documento, obtido pela reportagem, propõe que os ministros do TCU apliquem multas de até R$ 58,2 mil a 13 gestores do banco por, supostamen­te, darem pareceres favoráveis à concessão do crédito, “sem fazer as análises técnicas necessária­s”. Além dos auditores do tribunal, o Ministério Público de Contas sugere as mesmas sanções.

O julgamento foi iniciado em 13 de setembro, mas suspenso por um pedido de vista, após divergênci­a entre os integrante­s do plenário.

Os recursos foram liberados em 2013, durante a gestão do ex-presidente do BB Aldemir Bendine —atualmente preso pela Operação Lava Jato—, que era amigo de Marchiori. O empréstimo foi concedido à Torke Empreendim­entos, que tinha a socialite como administra­dora.

O dinheiro vinha do Programa de Sustentaçã­o do Investimen­to, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi- mento Econômico e Social).

A Folha revelou que Marchiori foi orientada pelo BB e, menos de um mês antes de pedir o apoio financeiro, alterou o objeto social da empresa para enquadrá-la nas regras para obtenção de crédito. A Torke passou, então, a ter entre suas atividades “o transporte rodoviário de produtos perigosos”.

O financiame­nto se destinou à compra de cinco caminhões. Os veículos foram alugados para uma transporta­dora do irmão dela, prestadora de serviços para o frigorífic­o Big Frango, adquirido pela JBS em 2014.

O TCU analisou as condutas dos gestores do banco que deram aval à operação.

Eventuais irregulari­dades atribuídas a Bendine e Marchiori não estavam no foco da fiscalizaç­ão.

A auditoria sustenta que o empréstimo foi aprovado em desacordo com os normativos do BB porque a apresentad­ora tinha histórico de inadimplên­cia com o próprio banco, o que impediria a concessão de crédito não só para ela, mas para a empresa que representa­va.

“Verificou-se que não foram realizadas análises técnicas suficiente­s para a aprovação do referido financiame­nto e, tampouco, houve,

DE BRASÍLIA

O Banco do Brasil diz que prestou as informaçõe­s solicitada­s pelo TCU e demonstrou “a regularida­de das operações”. O banco afirma que os fatos foram investigad­os pela Polícia Federal, que concluiu não ter havido irregulari­dade e que a Justiça Federal julgou improceden­te denúncia do Ministério Público Federal.

O advogado de Val Marchiori, André Boiani de Azevedo, disse que as investigaç­ões demonstrar­am não ter havido nenhum tipo de fraude ou de influência de Aldemir Bendini para viabilizar os empréstimo­s. Ele afirmou que sua cliente seguiu os trâmites do banco e que partiu do próprio responsáve­l pelo processo orientação para que o objeto social da empresa fosse alterado. no dossiê da operação, qualquer menção ao normativo que regula a realização de operações customizad­as”, diz trecho de relatório. PORSCHE O TCU também fiscalizou outro empréstimo do BB à Torke, de R$ 200 mil. O montante era provenient­e de uma linha de crédito do próprio banco e foi empregado na compra de um Porsche Cayenne, de uso da apresentad­ora. A auditoria concluiu que, nesse caso específico, não houve irregulari­dade, pois, pela legislação, o uso do veículo não precisa estar associado aos objetivos sociais da empresa. Além disso, as prestações foram quitadas.

O financiame­nto de R$ 2,79 milhões ainda está em curso. Não há data para que o processo volte a julgamento.

Na sessão de 13 de setembro, o relator, ministro José Múcio Monteiro, votou para que as multas não fossem aplicadas aos gestores do BB. Argumentou que a operação não represento­u “risco ou efetivo prejuízo” à instituiçã­o. Considerou também que não ficou demonstrad­a ilegalidad­e nas condutas.

O ministro citou decisão da Justiça Federal em São Paulo que rejeitou denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra Marchiori, o irmão dela, Adelino Marchiori, e o gerente do BB Alexandre Canizela. A decisão foi mantida pelo TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), mas a Procurador­ia da República recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O ministro André Luís de Carvalho discordou da posição de Múcio e pediu vista do processo. A decisão dependerá do plenário do TCU.

 ?? Bruno Santos - 16.nov.2015/Folhapress ?? Normas internas teriam sido desrespeit­adas por gestores na gestão de Bendine, amigo dela, hoje preso na Lava Jato A apresentad­ora e empresária Val Marchiori, que tomou empréstimo de R$ 2,79 milhões do Banco do Brasil em 2015
Bruno Santos - 16.nov.2015/Folhapress Normas internas teriam sido desrespeit­adas por gestores na gestão de Bendine, amigo dela, hoje preso na Lava Jato A apresentad­ora e empresária Val Marchiori, que tomou empréstimo de R$ 2,79 milhões do Banco do Brasil em 2015

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