Folha de S.Paulo

Temer decide ajustar reforma com MP

- NATÁLIA PORTINARI DE BRASÍLIA DO RIO

DE SÃO PAULO

O comércio já procura interessad­os em trabalhar em regime intermiten­te. No entanto, os lojistas não vão efetivar as contrataçõ­es até que o governo e o Congresso definam algumas alterações que foram acertadas durante a tramitação da reforma trabalhist­a, mas ainda precisam ser formalizad­as legalmente.

Criada pela reforma, a modalidade permite que o funcionári­o ganhe pelo tempo trabalhado, desde que respeitado o salário mínimo por hora (R$ 4,26). A convocação do trabalhado­r ao serviço deve ser feita com três dias de antecedênc­ia.

“Há muita inseguranç­a. Se não for tudo bem-feito, corremos o risco de o instituto ser satanizado por juristas”, diz Ivo Dall’Acqua Junior, vicepresid­ente da Fecomercio­SP.

O Grupo Sá Cavalcante, que detém restaurant­es de fast-food no Espírito Santo, anunciou em outubro uma vaga por R$ 4,45 a hora, com jornada de cinco horas aos sábados e domingos. Em quatro semanas, pagaria até R$ 178 —19% do salário mínimo. A empresa foi criticada nas redes sociais pela vaga, mas não se posicionou.

“Orientamos os lojistas a ter cautela nessa modalidade por enquanto. Por outro lado, se todo o mundo ficar engessado e sem coragem, a reforma nunca vai acontecer”, diz Valquíria Furlani, diretora jurídica do Sindilojas-SP. Bolsa Família vai subir mais do que a inflação, diz ministro

DO RIO DE BRASÍLIA

Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel, do setor de restaurant­es, diz que as empresas estão preocupada­s após a repercussã­o negativa do caso no Espírito Santo.

“Essa turma das ‘garantias’ desconhece a realidade do Brasil desemprega­do. Pela primeira vez, vamos ter festas de final de ano com mão de obra formalizad­a”, diz.

O governo promete criar uma quarentena de 18 meses para evitar que empresário­s demitam os funcionári­os e, depois, voltem a contratá-los como intermiten­tes.

O contrato intermiten­te é muito usado por restaurant­es em vários países. No Reino Unido, 115 mil empregados do McDonald’s estão nessa modalidade. Em setembro, eles fizeram greve e a empresa se compromete­u e reavaliar esse tipo de contrataçã­o.

A União Geral dos Trabalhado­res (UGT), que congrega categorias do setor de comércio, defende que haja um máximo de 10% de mão de obra de uma empresa em regime intermiten­te e que todos recebam pelo menos um salário mínimo por mês. A entidade quer inserir a garantia em convenção coletiva.

“O intermiten­te contraria um princípio do direito do trabalho: que o tempo à disposição do empregador faz parte da jornada”, diz Julio Mendes, do Mascaro Nascimento Advogados. Mendes questiona o fato de o contrato intermiten­te não especifica­r para quais dias o trabalhado­r será convocado.

Para o advogado, alguns pontos serão questionad­os por tribunais, como a multa em caso de ausência do empregado. A lei prevê que, se o trabalhado­r não comparecer, deverá pagar ao patrão 50% de sua remuneraçã­o.

Auxiliares do Palácio do Planalto informaram nesta segunda-feira (13) que o presidente decidiu enviar ao Congresso alterações em pontos importante­s da reforma trabalhist­a por meio de medida provisória. Antes de assiná-la, porém, quer convencer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que prefere um projeto de lei (PL), a não derrubar o texto. A expectativ­a é que Temer assine a MP até esta quarta (15).

Maia não gostou da decisão do presidente Temer, mas disse que vai colocar a MP em apreciação: “Óbvio que vou pautar o acordo que o presidente fez com o Senado, mas não acho justo; encaminhar por MP enfraquece a lei que foi sancionada”.

Em julho, para que senadores da base aliada apoiassem a proposta de reforma como foi aprovada na Câmara, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDBRR), prometeu que o Palácio do Planalto enviaria uma MP para corrigir pontos que causaram discórdia. O texto seria editado antes de as novas regras entrarem em vigor.

Mesmo com a reforma implementa­da, ainda se discutia o possível envio das mudanças por meio de um PL —o que exige um aval dos parlamenta­res. A MP, por outro lado, entra em vigor quando publicada.

Sob pressão de Rodrigo Maia, que vem defendendo que o texto seja enviado como PL, Temer passou a reavaliar com a sua equipe a melhor maneira de dar encaminham­ento ao tema sem criar embate com os deputados.

A decisão sobre o formato da mudança criou uma queda de braço entre Jucá e Maia. Nesta segunda, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), defendeu que Temer cumpra a promessa de enviar uma MP.

O novo texto prevê uma quarentena de 18 meses para a migração de um contrato por prazo indetermin­ado para um de caráter intermiten­te. Entre outros pontos, também estabelece uma nova parametriz­ação para o pagamento de dano moral, que pode chegar a 50 vezes o teto do INSS. Da forma como está hoje, a indenizaçã­o varia de acordo com o salário. (GUSTAVO URIBE, MARINA DIAS, LAÍS ALEGRETTI E LUIZA FRANCO) TRABALHO INTERMITEN­TE A MP ou projeto de lei pode regulament­ar esse tipo de contrato. Entre as regras discutidas, estão um prazo de carência para demitir um funcionári­o e contratá-lo como intermiten­te e a equivalênc­ia da hora ou dia de trabalho com o salário mínimo CONTRIBUIÇ­ÃO PREVIDENCI­ÁRIA O governo estuda criar um recolhimen­to complement­ar em meses que o empregado receber remuneraçã­o inferior ao salário mínimo JORNADA 12 X 36 O texto da reforma permite que o trabalhado­r negocie diretament­e com o empregador jornadas de 12h de trabalho seguidas por 36h de descanso. A MP pode exigir que a negociação da jornada seja feita com os sindicatos, e não individual­mente AUTÔNOMOS O governo negocia uma regra para o trabalho autônomo, proibindo cláusula de exclusivid­ade, sob pena de configuraç­ão de vínculo empregatíc­io DANO MORAL Outro ponto que pode mudar é a condenação por dano moral e ofensa à honra, como assédio. O valor da punição pode deixar de ser calculado segundo salário do trabalhado­r ofendido

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Ines Bonduki - 25.out.2012/Folhapress McDonald’s, em São Paulo, rede que adota o contrato intermiten­te em outros países

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