Drone paralisa Congonhas, desvia aviões e mobiliza PF
Sobrevoo de aparelho afetou milhares de passageiros e pôs aviação em alerta
Polícia ainda procurava responsável, que está sujeito a até 5 anos de prisão; 34 voos foram para outros aeroportos FOLHA
O uso irregular de um drone perto de uma das cabeceiras de Congonhas, na zona sul de São Paulo, levou ao fechamento do aeroporto por mais duas horas, desvio de voos e mudanças na rotina de milhares de passageiros entre a noite de domingo (12) e a manhã de segunda (13).
Além da mobilização da Polícia Federal em busca do responsável pelo incidente, que ainda era desconhecido, os transtornos provocados pelo drone, que sobrevoava a região do Jabaquara, levantaram na aviação brasileira uma preocupação que já se espalhou pelo mundo —devido aos riscos de interferência dos aparelhos, com uso doméstico e profissional, no tráfego aéreo.
No Brasil, até este mês, estão cadastrados mais de 24 mil drones —o número real pode ser ainda maior.
O drone que parou Congonhas foi avistado por pilotos que estavam na etapa final de voo. A informação foi repassada aos controladores de voo, que notificaram as autoridades de segurança aérea e do aeroporto —que, por sua vez, decidiram interromper os pousos e as decolagens.
Pelas regras fixadas em maio deste ano pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os drones são proibidos de operar a uma distância de até 9 km de aeroportos ou de rotas de aviões, a depender da altura atingida pelo equipamento.
A suspensão de Congonhas causou efeito cascata. O aeroporto, que normalmente opera até as 23h, recebeu voos até as 2h45, que tinham atrasos de mais de cinco horas.
O consultor de marketing Leandro Schulai embarcou em voo da Gol que saiu de Brasília e deveria chegar às 22h40 em Congonhas, mas acabou desviado ao Galeão, no Rio.
“Dormi no voo e, quando acordei, eu me assustei porque vi que ninguém deixava a aeronave. Foi quando comunicaram que estávamos no Rio”, contou ele, que voltou a São Paulo por volta da 1h.
Segundo a Infraero (estatal que regula os aeroportos), 34 voos foram desviados para outros aeroportos do país. CRIME O operador do drone que fazia sobrevoo irregular pode pegar até cinco anos de prisão por colocar a aviação civil em risco, segundo Marcelo Honorato, juiz e especialista em crimes aeronáuticos.
Ele pode ser enquadrado no artigo 261 do Código Penal, que tipifica como crime expor a perigo aeronave ou praticar qualquer ato a impedir ou dificultar navegação aérea. O artigo também é usado para tentar coibir a soltura de balões.
O caso pode render ainda um processo civil, caso as companhias aéreas queiram buscar ressarcimento pelos custos que tiveram por causa do uso indevido do drone.
O piloto Adriano Castanho, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz que uma eventual colisão de aeronave em voo com um drone pode ser “catastrófica”. “A aeronave tem peças muito sensíveis que, se atingidas, podem prejudicar um controle do voo.”
Aeroportos do país não dispõem de tecnologia para identificar drones em suas áreas.
Castanho sugere que a regulação do setor passe a contemplar a obrigatoriedade do vínculo de um drone a um IP (código identificador de computadores). “Assim, quando fosse ativado, seria possível fiscalizá-lo de alguma forma.”
A Abear (associação das empresas aéreas) cobrou uma “ação contundente de punição” ao responsável pelo drone na região de Congonhas.
“Esse caso precisa servir de exemplo para educarmos a sociedade quanto ao perigo dessa atitude. Foi uma irresponsabilidade”, disse Ronaldo Jenkins, diretor da entidade, que estimou prejuízos imediatos superiores a R$ 1 milhão.