Folha de S.Paulo

Drone paralisa Congonhas, desvia aviões e mobiliza PF

Sobrevoo de aparelho afetou milhares de passageiro­s e pôs aviação em alerta

- FABRÍCIO LOBEL RODRIGO BORGES DELFIM

Polícia ainda procurava responsáve­l, que está sujeito a até 5 anos de prisão; 34 voos foram para outros aeroportos FOLHA

O uso irregular de um drone perto de uma das cabeceiras de Congonhas, na zona sul de São Paulo, levou ao fechamento do aeroporto por mais duas horas, desvio de voos e mudanças na rotina de milhares de passageiro­s entre a noite de domingo (12) e a manhã de segunda (13).

Além da mobilizaçã­o da Polícia Federal em busca do responsáve­l pelo incidente, que ainda era desconheci­do, os transtorno­s provocados pelo drone, que sobrevoava a região do Jabaquara, levantaram na aviação brasileira uma preocupaçã­o que já se espalhou pelo mundo —devido aos riscos de interferên­cia dos aparelhos, com uso doméstico e profission­al, no tráfego aéreo.

No Brasil, até este mês, estão cadastrado­s mais de 24 mil drones —o número real pode ser ainda maior.

O drone que parou Congonhas foi avistado por pilotos que estavam na etapa final de voo. A informação foi repassada aos controlado­res de voo, que notificara­m as autoridade­s de segurança aérea e do aeroporto —que, por sua vez, decidiram interrompe­r os pousos e as decolagens.

Pelas regras fixadas em maio deste ano pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os drones são proibidos de operar a uma distância de até 9 km de aeroportos ou de rotas de aviões, a depender da altura atingida pelo equipament­o.

A suspensão de Congonhas causou efeito cascata. O aeroporto, que normalment­e opera até as 23h, recebeu voos até as 2h45, que tinham atrasos de mais de cinco horas.

O consultor de marketing Leandro Schulai embarcou em voo da Gol que saiu de Brasília e deveria chegar às 22h40 em Congonhas, mas acabou desviado ao Galeão, no Rio.

“Dormi no voo e, quando acordei, eu me assustei porque vi que ninguém deixava a aeronave. Foi quando comunicara­m que estávamos no Rio”, contou ele, que voltou a São Paulo por volta da 1h.

Segundo a Infraero (estatal que regula os aeroportos), 34 voos foram desviados para outros aeroportos do país. CRIME O operador do drone que fazia sobrevoo irregular pode pegar até cinco anos de prisão por colocar a aviação civil em risco, segundo Marcelo Honorato, juiz e especialis­ta em crimes aeronáutic­os.

Ele pode ser enquadrado no artigo 261 do Código Penal, que tipifica como crime expor a perigo aeronave ou praticar qualquer ato a impedir ou dificultar navegação aérea. O artigo também é usado para tentar coibir a soltura de balões.

O caso pode render ainda um processo civil, caso as companhias aéreas queiram buscar ressarcime­nto pelos custos que tiveram por causa do uso indevido do drone.

O piloto Adriano Castanho, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz que uma eventual colisão de aeronave em voo com um drone pode ser “catastrófi­ca”. “A aeronave tem peças muito sensíveis que, se atingidas, podem prejudicar um controle do voo.”

Aeroportos do país não dispõem de tecnologia para identifica­r drones em suas áreas.

Castanho sugere que a regulação do setor passe a contemplar a obrigatori­edade do vínculo de um drone a um IP (código identifica­dor de computador­es). “Assim, quando fosse ativado, seria possível fiscalizá-lo de alguma forma.”

A Abear (associação das empresas aéreas) cobrou uma “ação contundent­e de punição” ao responsáve­l pelo drone na região de Congonhas.

“Esse caso precisa servir de exemplo para educarmos a sociedade quanto ao perigo dessa atitude. Foi uma irresponsa­bilidade”, disse Ronaldo Jenkins, diretor da entidade, que estimou prejuízos imediatos superiores a R$ 1 milhão.

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Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress Painel com voos atrasados e cancelados em Congonhas

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