Quido sólido”, com estrutura microscópica semelhante ao vidro (daí o nome).
RÃS DO ÁRTICO Como Pereira aponta, processos similares aos descritos acima já existem naturalmente no organismo de alguns vertebrados —embora eles sejam parentes distantes da nossa espécie. Rãs, lagartos e até tartarugas que habitam regiões temperadas e as vizinhanças do Ártico literalmente congelam durante o inverno.
No Alasca, por exemplo, a rã Lithobates sylvaticus chega a passar quase 200 dias consecutivos todos os anos numa situação em que a temperatura média de seu corpo é de 6 graus Celsius negativos, podendo chegar a 15 graus Celsius abaixo de zero.
Cada espécie tem uma estratégia ligeiramente diferente para lidar com esse desafio mas, de maneira geral, o que ocorre é que as substâncias crioprotetoras (no caso das rãs, a principal é a glicose, um tipo de açúcar) permitem que a maior parte da água do organismo seja exportada em segurança para fora das células. Até 70% dessa água acaba formando cristais de gelo, não afetando, desse modo, as delicadas estruturas celulares.
Será que mesmo esses cuidados seriam capazes de preservar a funcionalidade de um cérebro humano e, mais importante, a personalidade de uma pessoa pelos séculos dos séculos? “Acredito que poderíamos ter um indivíduo com plena saúde mental após o processo”, diz o biólogo da USP.
“Considero essa possibilidade porque, na natureza, fenômenos semelhantes ocorrem, sem aparente dano ao cérebro do animal. Não vejo obstáculos biológicos para que um evento que ocorre em outros seres vivos não possa ser modelado para o ser humano”, explica.
Na prática, porém, não há como saber se coisas como memórias, emoções e associações, que dependem de conexões moleculares entre as células cerebrais, não seriam afetadas pelo congelamento. Há quem fale em “escanear a mente” do paciente antes do processo criogênico e restaurá-la mais tarde, embora ninguém ainda tenha ideia de como fazer esse tipo de coisa.