Folha de S.Paulo

Brasil cobra ambição na COP, mas não faz ‘lição de casa’ climática

Decisões recentes do governo e projetos de lei vão na contramão das metas nacionais acordadas

- ANA CAROLINA AMARAL

País se compromete­u a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030 FOLHA, EM BONN (ALEMANHA)

Ante uma plateia formada por ambientali­stas, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV) classifico­u de inaceitáve­l uma medida provisória que reduz os impostos sobre o petróleo proposta pelo colega da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). Estudo técnico do Congresso calcula que o governo renunciari­a a cerca de R$ 1 trilhão apenas nos campos do pré-sal.

“Foi uma iniciativa do Ministério da Fazenda, só tem a assinatura do ministro da Fazenda. E é lógico que me deixou perplexo”, afirmou Sarney Filho nesta segunda-feira (13), em uma das salas da Conferênci­a do Clima, em Bonn.

Ele disse que desconheci­a a MP 795 até a semana passadaequ­e,desdeentão, tenta derrubá-la no Congresso. Prometeu se opor a ela com “todas as forças”.

“Logo que soube dessa notícia, liguei pro presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizendo que seria inaceitáve­l”, afirmou. “Além da renúncia fiscal para petróleo e gás, na contramão da história e da modernidad­e, ainda teve emendas prorrogand­o de 2022 para 2040”, disse.

“Estou disparando telefonema­s, falando, conversand­o. Gostaria de ter certeza de que vamos reverter, mas vamos lutar”, disse o ministro do Meio Ambiente, que deve deixar a pasta em março para disputar as eleições.

Na semana passada, a MP foi aprovada por uma comissão especial do Congresso criada para avaliar o tema. Agora, precisa ser aprovada pelos plenários da Câmara e do Senado até 15 de dezembro para que não caduque.

Segundo estudo técnico da assessoria da Câmara, com a eventual aprovação da MP, “tanto a participaç­ão governamen­tal direta quanto a participaç­ão governamen­tal indireta, caracteriz­ada por tributos, passariam a estar entre as mais baixas do mundo”.

Procurado pela reportagem da Folha, o Ministério da Fazenda afirmou que “a edição de qualquer medida provisória é prerrogati­va do presidente da República.”

O ministro diz ainda que irá aguardar o retorno do titular do Meio Ambiente ao Brasil para entender sobre quais pontos há críticas. (FM)

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