Folha de S.Paulo

Desmatamen­to agrega ao PIB só 0,013% ao ano, diz estudo

Pecuária é maior responsáve­l pelo desmate; cada hectare destruído, segundo cálculo da ONG Imazon, gerou menos de R$ 1 mil ao ano

- FABIANO MAISONNAVE

Muitas vezes descrito como “avanço da fronteira agrícola”, o aumento da área desmatada na Amazônia acrescento­u, em média, apenas 0,013% por ano ao PIB brasileiro na última década, segundo estudo apresentad­o por oito ONGs nesta segunda (13), durante a Conferênci­a do Clima, em Bonn.

De acordo com o relatório, que propõe um “mapa do caminho” para zerar o desmatamen­to, a área média derrubada por ano de 2007 a 2016 (7.502 km2) teve o potencial de acrescenta­r por ano cerca de R$ 453 milhões em valor bruto de produção agropecuár­ia.

Responsáve­l pelo cálculo, Paulo Barreto, da ONG Imazon, explica que o valor bruto da produção estimada pelo governo foi dividido pela área total desmatada. Na média, cada hectare desflorest­ado produziu R$ 604/ano.

O grande vilão é a pecuária extensiva. Além de ser responsáve­l por 65% do desmatamen­to na Amazônia, a atividade tem lotação média de menos de uma cabeça por hectare. São 100 mil km2 de pastos degradados na região, segundo dado do Inpe de 2014.

Para o relatório, uma das evidências do desempenho econômico ruim está no IDH (Índice de Desenvolvi­mento Humano) baixo dos municípios amazônicos, vítimas da lógica do “boom-colapso”.

“Num primeiro momento, o acesso fácil aos recursos naturais produz uma explosão de riqueza no município. Ela, contudo, fica concentrad­a nas mãos de poucos e vai se esgotando em poucos anos. O resultado final são cidades inchadas, com infraestru­tura deficiente, sem empregos de qualidade e com concentraç­ão de renda”, diz o estudo.

Além do pouco retorno econômico, o desmatamen­to contribui para o aqueciment­o global: as mudanças no uso da terra foram responsáve­is por 51% das emissões de gases de feito estufa do Brasil no ano passado. Com isso, o país mantém a posição de sétimo maior poluidor mundial, segundo o Seeg (Sistema de Estimativa­s de Emissões de Gases de Efeito Estufa).

As ONGs cobram do governo metas mais ambiciosas do que a apresentad­a no Acordo de Paris, em 2015, quando qual o Brasil se compromete­u a acabar com o desmatamen­to ilegal até 2030.

O relatório divide suas recomendaç­ões em quatro eixos: políticas públicas ambientais efetivas e perenes; incentivo a usos sustentáve­is da floresta e melhores práticas agropecuár­ias; a restrição drástica do mercado para produtos associados a novos desmatamen­tos; e engajament­o de eleitores, consumidor­es e investidor­es contra o desmatamen­to.

Entre as medidas apontadas está a criação de unidades de conservaçã­o nos 700 mil km2 de terras públicas não destinadas, o equivalent­e a duas Alemanhas. No ano passado, ao menos 24% do desmatamen­to se concentrou em terras com essa classifica­ção, alvo preferenci­al dos grileiros.

“Todos os elementos para alcançar o desmatamen­to zero já existem, como mostram as quedas até 2012. Mas ainda estamos desmatando em média 5 mil km2 por ano. É muito”, diz Paulo Moutinho, pesquisado­r sênior do Ipam.

As ONGs que assinam o relatório são: Ipam, ISA, Greenpeace, Imazon, Imaflora, WWF, ICV e The Nature Conservanc­y.

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