Folha de S.Paulo

Condon também avaliou a situação do Brasil, que, ao lado dos Estados Unidos, for-

- CAROLINA LINHARES ENVIADA ESPECIAL A BRUXELAS (BÉLGICA)

A entrada de empresas de tecnologia no setor agrícola vai garantir concorrênc­ia apesar da fusão entre Bayer e Monsanto, afirma Liam Condon, membro do Conselho de Administra­ção e presidente da divisão agrícola da empresa alemã.

Em entrevista à Folha, o executivo defende que a união entre as gigantes agrícolas —a Bayer, que atua no setor de insumos agrícolas, como pesticidas, e a Monsanto, empresa americana de sementes— não vai gerar redução da competição. A compra foi anunciada em 2016 por US$ 66 bilhões.

O executivo diz que a entrada na agricultur­a de empresas de tecnologia, como Google, Bosch e start-ups, é subestimad­a.

“Há uma nova competição surgindo que as pessoas ainda não percebem muito, mas nós sim. Não temo que haja falta de concorrênc­ia, minha preocupaçã­o é que a Bayer ainda esteja por aqui daqui a dez anos.”

A fusão está prevista para o início de 2018. “Há um pouco de sobreposiç­ão na área de sementes, e autoridade­s regulatóri­as dirão o que teremos que alienar e, uma vez que eliminemos isso, não vemos redução de concorrênc­ia”, diz Condon.

Em outubro, a Superinten­dência-Geral do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) recomendou que a fusão fosse impugnada pelo tribunal do órgão, que tem até março para decidir.

A nova empresa poderá dominar mais de um quarto do mercado mundial de sementes e pesticidas. Segundo o Cade, a fusão “pode determinar as condições de acesso à biotecnolo­gia e do risco de adoção de práticas comerciais que dificultem o desenvolvi­mento de concorrent­es”.

Para Condon, mesmo após a fusão, a tecnologia será acessível para pequenos produtores. “Tudo o que fazemos é baseado em gerar mais inovação que nossos competidor­es para que os agricultor­es tenham incentivo para usar nossos produtos”, diz.

Em 2016, a divisão agrícola da Bayer investiu € 1,2 bilhão (11,7% das vendas globais) em pesquisa e desenvolvi­mento.

Ele afirmou ainda que a marca Monsanto é uma preocupaçã­o, pois carrega uma imagem negativa entre os consumidor­es, e que a fusão terá que contornar isso. BRASIL E EUA ma os dois maiores mercados estratégic­os da Bayer.

O executivo afirmou haver “uma crescente desconexão entre a instabilid­ade política e a economia” —enquanto a crise política perdura no Brasil, a economia “parece ir razoavelme­nte bem”.

Condon diz que o mercado brasileiro tem sido volátil, inclusive pelo clima tropical, mas há razões para acreditar no cresciment­o e investir a longo prazo.

“O que percebemos nesses tempos é que a recessão está sendo bastante dura para a economia no geral, mas a agricultur­a ainda tem uma performanc­e razoavelme­nte boa”, afirma o executivo.

Ainda assim, o fraco desempenho­nopaísfezc­omque a Bayer revisse a expectativ­a de faturament­o da divisão agrícola para menos de € 10 bilhões em 2017 —queda de 5% ante a previsão anterior.

A seca e a diminuição da pressão de pragas levaram a uma queda na demanda por pesticidas e fungicidas. CAROLINA LINHARES

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