Mugabe resiste à pressão e não renuncia
Líder do Zimbábue diz na TV que país precisa aprender a perdoar
Dirigente afirma que presidirá o próximo congresso de seu partido, que deu até 2ª para que renuncie
Cercado por militares, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, discursou em uma rede de televisão neste domingo (19) e, contrariando as expectativas, não renunciou ao cargo, mas afirmou que presidirá o próximo congresso de seu partido.
“O congresso [do partido governista Zanu-PF] deve ser realizado nas próximas semanas e eu vou presidir os debates”, disse o ditador de 93 anos, que está sendo pressionado pelo Exército, pelas ruas e por seu partido para que renuncie.
Horas antes, o próprio Zanu-PF havia destituído Mugabe do cargo de presidente da legenda, substiuindo-o pelo ex-vice-presidente Emmerson Manangagwa.
O partido deu ainda até o meio-dia desta segunda (20) para que Mugabe renunciasse ao cargo de presidente ou enfrentasse então um impeachment.
Mangagwa foi anunciado como candidato às eleições presidenciais previstas para 2018. A primeira-dama do Zimbábue, Grace Mugabe, que tinha ambições presidenciais, também foi expulsa do Zanu-PF.
No sábado, as ruas da capital Harare foram tomadas por manifestações, apoiadas pelo Exército, pedindo a renúncia daquele que foi herói na luta pela independência e hoje é um ditador —e que na última semana perdeu consideravelmente seus apoios.
“Estou sabendo das últimas movimentações do partido [Zanu-PF]”, disse Mugabe no discurso, visto por muitos como titubeante. É compreensível, mas eles não podem se guiar pela amargura e pelo desejo de vingança, que não nos farão melhores.”
“Precisamos aprender a perdoar, a resolver as contradições em espírito de companheirismo”, acrescentou.
“A era da vitimização e das decisões arbitrárias devem ficar para trás”, disse Mugabe.
“A mulher [de Mugabe] e outros se aproveitaram de uma situação delicada para usurpar o poder e saquear recursos do Estado”, disse um dos porta-vozes do partido, Obert Mpofu, após a reunião.
Os veteranos da guerra da independência do Zimbábue também haviam pedido a renúncia do presidente neste domingo.
A intervenção do Exército é um marco no longo mandato de Mugabe, marcado pela repressão de qualquer tipo de oposição e uma grave crise econômica. Cerca de 90% da população está desempregada.
O mais veterano chefe de Estado do mundo está cada vez mais solitário, desde que foi abandonado pelo Exército, pelo partido e pelos veteranos de guerra.
Na madrugada da última quarta-feira, o Exército interveio em Harare, a capital, em apoio a Mnangagwa, o vice- presidente destituído por Mugabe uma semana antes.
O Exército colocou o presidente sob prisão domiciliar, apesar de ter autorização para fazer alguns deslocamentos.
Mugabe, que deixou o país pouco depois de sua destituição, voltou ao Zimbábue na quinta-feira.
ROBERT MUGABE
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