Nova terapia gênica ajuda pacientes com leucemia grave
Realizado nos EUA, tratamento experimental reprograma linfócitos T para atacarem um alvo específico nas células cancerosas
Uma nova maneira de alterar geneticamente as células se mostrou efetiva em pessoas que enfrentam leucemia grave e que não tinham tido sucesso com outros tratamentos.
A abordagem, ainda experimental, poderá no futuro ser aplicada de forma independente ou, mais provavelmente, tornar-se parte de tratamentos combinados, semelhantes aos regimes que empregam múltiplos medicamentos na quimioterapia.
Participaram do estudo 21 pessoas de 7 a 30 anos com leucemia linfoblástica aguda de células B, que haviam esgotado todas as demais opções de tratamento. Todos haviam recebido pelo menos um transplante de medula óssea, um tratamento difícil com diversos efeitos colaterais severos.
Num dos recortes da pesquisa, 11 dos 15 pacientes testados registraram remissão completa da doença, que durou em média seis meses. Três ainda estão em remissão 21 meses depois de terem sido tratados.
Os pesquisadores dizem que a terapia pode ser mais promissora como parte de uma combinação do que se usada de forma isolada, porque, ainda que alguns pacientes de um pequeno estudo tenham registrado remissões prolongadas, muitos outros apresentaram recaídas.
A pesquisa, conduzida pelo Instituto Nacional do Câncer dos EUA, é o mais recente avanço no campo da imunoterapia, área que vem registrando rápido crescimento.
O novo trabalho tomou por base dois tratamentos anteriores aprovados neste ano: o Kymriah, produzido pela Novartis para combater a leucemia; e o Yescarta, da Kite Pharma, usado contra linfomas. Em alguns casos, os dois tratamentos propiciaram remissões longas e aparentemente miraculosas em pessoas cujos prognósticos eram de morte.
O Kymriah e o Yescarta requerem a remoção de milhões de células T do paciente —glóbulos brancos sanguíneos que combatem doenças— e sua alteração via engenharia genética para que busquem e destruam células cancerosas. As células T são então transferidas de volta ao paciente, onde se alojam em uma proteína chamada CD19 encontrada em células malignas presentes na maior parte das variedades de leucemia e linfoma.
No novo tratamento, porém, as células T são programadas para atacar um alvo diferente nas células cancerosas: a proteína CD22.
Um dos motivos para os pesquisadores mudarem o foco é que eles esperavam constatar que a CD19 não é o único alvo vulnerável, segundo Crystal Mackall, responsável pelo estudo publicado no periódico “Nature Medicine”. As células cancerosas são altamente adaptáveis e muitas vezes encontram maneiras de escapar a tratamentos direcionados a apenas um alvo. “A ideia de que possamos ter uma solução mágica para tudo é ingênua”, disse Mackall.
Outro motivo para a busca de alternativas é que alguns pacientes com leucemia ou linfoma não têm a proteína CD19, e por isso os tratamentos existentes com células T não funcionam para eles. PAULO MIGLIACCI