PF vê indícios de que Geddel lavou dinheiro
Polícia diz não ser crível que alguém de posse de ‘absurda quantia’ corresse risco de assalto, em referência a bunker
PF afirma ainda que família deixou de ter rendimentos sobre os R$ 51 mi porque verba não podia ser declarada
A Polícia Federal afirmou em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) na segunda (27) que há suficientes indícios de que Geddel Vieira Lima (PMDB), seu irmão, Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), e a mãe deles, Marluce Vieira Lima, cometeram os crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A afirmação é a conclusão da investigação do bunker de R$ 51 milhões, descoberto pela PF em um apartamento em Salvador (BA) em 8 de setembro, na operação Tesouro Perdido. Os ex-assessores dos peemedebistas Job Ribeiro e Gustavo Ferraz também são apontados como partícipes dos crimes.
“[Os envolvidos] estiveram unidos em unidade de desígnios para a prática de crimes de lavagem de dinheiro, seja pelo ocultamento de recursos financeiros em espécie oriundos de atividades ilícitas praticadas contra a Caixa Econômica Federal, apropriação indevida de recursos da Câmara dos Deputados por desvios de salários de secretários parlamentares, caixa 2 em campanhas eleitorais, possível participação de Lúcio Vieira Lima em ilicitudes relacionadas a medidas legislativas e da participação de Geddel em organização criminosa”, concluiu o delegado Marlon Cajado.
O relatório diz que não é “crível” que alguém que tivesse a “absurda quantia” preferisse correr o risco de assalto a colocar em uma instituição financeira, se não fosse pelo propósito de “ocultar sua existência”.
Em segundo lugar, a polícia aponta que, com a “inteligência” de Lúcio, de Geddel e da mãe, não era crível que a família deixasse de ter rendimentos sobre a quantia milionária, o que só, segundo a PF, aconteceu porque o dinheiro não poderia ser declarado.
A PF também aponta que o dinheiro que a família ganhava em postos de gasolina dos quais eram donos transitava em bancos, normalmente, da mesma forma os recebimentos de negócios agropecuários.
Em outro relatório, que investigava o chamado “qua- drilhão do PMDB na Câmara”, a PF já havia dito que os R$ 51 milhões eram fruto de desvios da Caixa e relacionado o valor com corrupção envolvendo o PMDB.
Geddel ocupou uma das vice-presidências do banco, a de Pessoa Jurídica, entre 2011 e 2013. O ex-ministro está preso desde setembro na Papuda (DF). A PGR (Procuradoria-Geral da República) deve apresentar denúncia nos próximos dias.
O ministro Edson Fachin, do STF, revogou a prisão domiciliar de Job Brandão, que também não vai precisar usar tornozeleira eletrônica.
Fachin atendeu a um pedido da defesa. A PGR se manifestou a favor da liberdade.
Job disse aos investigadores que destruiu documentos a pedido dos Vieira Lima.
Conforme informou a Folha, o ex-assessor pretende provar que devolvia parte de seu salário da Câmara para os políticos. Ele estuda fazer um acordo de delação premiada com a PGR. OUTRO LADO que representa Geddel, o irmão e a mãe, não atendeu às ligações e nem respondeu mensagens até o fechamento desta edição.
A defesa de Job Ribeiro afirmou que não concorda com a conclusão do relatório, porque “foi contraditório em relação aos fatos, às manifestações da PGR e à decisão de Fachin”.
Os advogados de Gustavo Ferraz disseram que “é descabido se cogitar de qualquer ato ou intenção da sua parte que se aproxime à lavagem de dinheiro”.