Odebrecht une opositora e 4 ex-presidentes no Peru
Keiko Fujimori é a última líder política do país acusada de receber dinheiro da empresa
Ollanta Humala está na prisão; Justiça já pediu extradição de Alejandro Toledo e investiga Alan García e Kuczynski FOLHA
Não faz muito, Carlín, o mais badalado caricaturista peruano, publicou no jornal “La República” uma charge que mostrava Jorge Barata, ex-superintendente da Odebrecht no Peru, preparandose para discursar em um banquete a cuja mesa sentavamse Alejandro Toledo, Alan García, Ollanta Humala, Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski. Todos batem as mãos contra a mesa e gritam: “Que no hable/que no hable”.
Tarde demais: não só Barata já falou como também o fez seu chefe, Marcelo Odebrecht, de um cenário de corrupção ainda mais abrangente que o brasileiro: todos os presidentes peruanos deste século mais a principal líder opositora, Keiko Fujimori, estão citados como receptores de doações/subornos da construtora brasileira.
Keiko, aliás, é filha de Alberto Fujimori, que fechou o século passado no cargo de presidente. É ela quem fecha o círculo de denúncias.
Nesta sexta (1º), o jornal “La República” reproduz denúncia de uma deputada fujimorista de que “pessoas vinculadas a Marcelo Odebrecht” queriam se reunir com Keiko para oferecer a ela “US$ 2 milhões (R$ 6,5 milhões) para sua campanha presidencial” de 2016.
A denúncia apenas corrobora o que o próprio Marcelo dissera a procuradores peruanos no mês passado em Curitiba: deixou claro, então, que não só contribuíra com Keiko antes, em 2011, como queria fazer um novo aporte.
Keiko reagiu furiosamente, mas a declaração de uma deputada de seu próprio grupo só reforça a suspeita, de resto disseminada no Peru.
Marcelo também informou que a Odebrecht contratara o hoje presidente Kuczynski como consultor financeiro, logo depois que ele deixou de ser ministro de Alejandro Toledo (2001-06). Kuczynski nega, como todos os envolvidos.
Toledo foi condenado a 18 meses de prisão preventiva, acusado de tráfico de influência e lavagem de dinheiro, por ter supostamente recebido US$ 20 milhões (R$ 65 milhões) para favorecer a empreiteira na construção da Rodovia Interoceânica Sul, que une Brasil e Peru. Como Toledo está nos EUA, corre pedido de extradição.
Nesta sexta, a Promotoria peruana pediu a prisão preventiva dos representantes de três empreiteiras locais que se associaram à empresa brasileira na construção da estrada, acusadas de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Alan García (2006-11) também aparece na delação de Marcelo Odebrecht e, com mais elementos ainda, na apuração da política espanhola sobre a intermediação de um banco de Andorra para recebimento de propinas/ lavagem de dinheiro.
Segundo minuciosa reportagem de “El País”, Miguel Atala Herrera, ex-vice-presidente da estatal Petróleos del Perú, foi designado pelo gabinete de García para receber US$ 1,3 milhões da Klienfeld (R$ 4,2 milhões), uma das firmas utilizadas pela Odebrecht para pagar subornos.
O único ex-presidente que está preso, por enquanto, é Ollanta Humala (2011-16), acusado de lavagem de dinheiro e de associação ilícita. Teria recebido US$ 3 milhões (R$ 9,8 milhões) da Odebrecht como parte do financiamento da campanha eleitoral de 2011.
Júlio Barata, o ex-representante da firma no Peru, declarou aos procuradores peruanos que recebera ordens de Marcelo Odebrecht para efetuar o pagamento, por solicitação expressa do PT brasileiro ao então principal executivo da companhia —Humala tinha Lula como um de seus principais aliados.