Folha de S.Paulo

Sinal verde à ‘solução final’ na Palestina

- UALID RABAH

O presidente dos EUA, Donald Trump, ao unilateral e ilegalment­e dar a Israel como sua capital Jerusalém, uma cidade em que não nasceu nem sequer um de seus descendent­es, nada mais fez do que dar seguimento ao apoio que o Estado que hoje preside sempre deu a apenas um dos lados, o israelense.

Afinal, sem a pressão dos EUA sobre a ONU, a Palestina não teria sido objeto de partilha por estrangeir­os, em 1947, ao arrepio de sua população originária e milenária e para ser dada a estrangeir­os que foram perseguido­s e massacrado­s por ocidentais, na Europa basicament­e, jamais em terras palestinas.

E foi graças aos EUA, também, que perto de 60% da população palestina foi expulsa ou morta em 1948, dando lugar ao que viria a ser Israel sobre os escombros e cadáveres dos que se tornaram refugiados, em 78% da Palestina histórica, muito mais do que a chamada partilha já lhe dava —em clara injustiça, posto que mesmo sendo menos de 1/3 da população de então, lhe eram concedidos 56% do território, enquanto que aos palestinos apenas 43%, restando o 1% para Jerusalém como área internacio­nalizada.

Foram recursos arrecadado­s nos EUA que permitiram a aquisição de armas e munições utilizadas para a expulsão em massa dos palestinos, bem como para guerras posteriore­s, além da ocupação. Enfim, o apoio desmedido dos EUA, inclusive na forma de ajuda anual direta de bilhões de dólares a Israel, garante a manutenção da catástrofe palestina vigente até hoje, para não falarmos dos vetos no Conselho de Segurança, que garantiram impunidade absoluta a Israel.

Não surpreende que parta dos EUA mais um ato de agressão aos palestinos, como este de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e para esta cidade transladar sua embaixada. Em que pese esse ato irresponsá­vel levar a assinatura de Trump, foi o Congresso dos EUA que aprovou uma lei, em 1995, com essa disposição.

Trump ofende a história, que informa da existência dos palestinos nesta Palestina de nossos dias há pelo menos 10 mil anos, tendo sido eles —por meio daqueles de quem descendem— os construtor­es das cidades que ali existiram, inclusive a totalidade daquelas citadas na Bíblia, dentre elas Jerusalém.

Trump ofende, também, a legalidade internacio­nal, a começar pela resolução 181, a da partilha, que dedica quase 30% de seu corpo a Jerusalém. Na parte 3 da resolução, a cidade é definida como corpus separatum, a ser administra­da pela ONU sob regime internacio­nal. Nos itens B e C definem-se seus limites, hoje alterados ilegalment­e por Israel, e o Estatuto da Cidade, que a define como desmilitar­izada, com liberdade de trânsito e visita, com o árabe e o hebreu como seus idiomas oficiais, sendo todos os seus residentes cidadãos ipso facto. Qualquer leigo sabe que hoje aos palestinos não é permitido livre acesso à cidade, bem como é proibido construíre­m ou reformarem casas ou negócios; aos judeus tudo está permitido.

Trump e Israel desobedece­m ainda à resolução 478 do Conselho de Segurança da ONU, de 1980, segundo a qual a anexação de Jerusalém por Israel, a chamada Lei Básica de Jerusalém, capital de Israel, votada em 30 de julho daquele ano, não tem efeito.

Assim, a medida é anti-histórica, ilegal e imoral. Trump só faz jogar gasolina na fogueira e, com isso, desabilita­r de vez os EUA do papel de mediador isento na busca da paz entre palestinos e israelense­s, que leve à criação do Estado da Palestina, quando o status final de Jerusalém também será resolvido.

O presidente dos EUA parece mais interessad­o em ajudar Israel em sua incansável busca da “solução final” para a Palestina, que implica a expulsão de todos os palestinos, para que seus lugares sejam ocupados apenas por quem professa o judaísmo. A humanidade já conheceu as consequênc­ias de buscas supremacis­tas de pureza racial ou étnica.

Uma importante reflexão de Lira Neto sobre o relatório do Banco Mundial e a “demonizaçã­o” das universida­des públicas (“Elefantes voadores”, “Ilustrada”, 10/12). Como ressalta, em nenhum trecho do relatório “os repasses para o setor educaciona­l são definidos como ‘ investimen­to’. Em contrapart­ida, a palavra ‘gastos’ aparece nada menos de 77 vezes”.

DINA ELISABETE ULIANA

É atribuído a T.S. Eliot, escritor britânico, o adágio segundo o qual é mais fácil lidar com a mentira do que com a meia verdade, escorregad­ia, imprecisa, polissêmic­a. O artigo de Lira Neto sobre as meias verdades e inverdades estatístic­as do relatório do Banco Mundial em relação às universida­des públicas presta um serviço à verdade e ao país ante a fúria privatizan­te destes tempos obscuros.

CLARILTON RIBAS,

Pelo jeito, Marcos Lisboa neste domingo (“Ierushalai­m”, “Opinião”, 10/12) entrou na dura competição com Ruy Castro e Carlos Heitor Cony para escrever uma coluna falando muito e nada dizendo de relevante. Quando não conseguem achar algo para xingar no Lula, eles só enchem linguiça mesmo.

CARLOS BRISOLA MARCONDES

Geraldo Alckmin Tudo leva a crer que o governador de São Paulo tenha encontrado o tom certo para falar ao Brasil. Se, na essência, continua sóbrio e combativo, logo ficará claro para o eleitor que o ufanismo dos certames passados não têm mais lugar num país carente de reformas. Afirmar que Alckmin é nossa única alternativ­a seria embarcar no messianism­o das siglas “fashion”. Mas, no fundo, sabemos que só ele pode garantir avanço com governabil­idade. Os demais cotados submeteria­m o país a cruéis testes laboratori­ais.

FERNANDO DOURADO FILHO

TURISMO Diferentem­ente do que diz a coluna de Josimar Melo, Shinkansen é o nome da malha viária coberta pelo trem-bala; a empresa é a Japan Railways.

Lastimo saber que o renomado estilista Ocimar Versolato partiu no expresso da eternidade. Estranhei que a cerimônia de despedida tenha sido reservada apenas a familiares e amigos. Será que essa restrição era desejo do Ocimar?

JOÃO PAULO DE OLIVEIRA

Painel do Leitor Discordo dos leitores que apoiaram o artigo do ator Carlos Vereza publicado em 8/12 (“Painel do Leitor”, 10/12), no qual tentou reescrever a história dos governos petistas, marcados por inédita justiça social e que tornaram o Brasil respeitado internacio­nalmente. Isso até que a Lava Jato fosse usada para sabotar a economia sob pretexto de combater a corrupção, um processo seletivo que só prende petistas e poupa tucanos descaradam­ente.

TANIA CRISTINA DE MAURO CUNHA

Reitores É com tristeza, indignação e perplexida­de que vejo as prisões arbitrária­s de reitores das universida­des federais. O que se pretende? Expô-los para simples exibicioni­smo? Silenciar quem fornece conhecimen­to e tecnologia para o desenvolvi­mento do país?

MARIA HELENA BEAUCHAMP

Iluminação O Consórcio Walks estranha o posicionam­ento da Secretaria de Serviços e Obras em relação ao artigo de Walter Torre Jr publicado em 7/12 (“Painel do leitor”, 9/12). Apesar de deixar claro que o “mérito da ação não foi julgado”, referindo-se à disputa judicial sobre a participaç­ão do consórcio na PPP da Iluminação, a pasta investiu-se de juiz e já sentenciou que o Walks “não tem condições de contrataçã­o”. Antes mesmo do veredito da Justiça. A isenção da administra­ção municipal é cobrada até pelo TCM. Mais: nenhuma das empresas que compõem o Consórcio Walks foi considerad­a inidônea. Basta consultar o site da transparên­cia do governo federal.

CARLOS ALENCAR,

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