Folha de S.Paulo

A paz que todos desejamos

- MILTON SELIGMAN

O reconhecim­ento pelos Estados Unidos de Jerusalém como a capital de Israel nada mais é do que o reconhecim­ento da realidade.

Em 1949, um ano após a fundação do moderno Estado de Israel, Jerusalém tornou-se oficialmen­te a capital do país. É lá que se encontram instituiçõ­es como o Parlamento, a Suprema Corte, os ministério­s e os gabinetes do primeiro-ministro e do presidente.

Essas instituiçõ­es, é importante ressaltar, situamse na parte ocidental da cidade, de população quase totalmente judaica, que faz parte do território israelense desde a fundação do Estado de Israel —precedendo, portanto, o conflito de 1967 e sem contestaçã­o internacio­nal sobre a soberania israelense na área.

Há mais de 3.000 anos, Jerusalém tem sido o centro da vida judaica. Mesmo nos períodos em que não havia liberdade religiosa na cidade, os judeus da diáspora lembravam sua cidade dourada.

Atualmente, as três religiões monoteísta­s podem ser exercidas em sua plenitude, e cada religião, inclusive, administra os seus próprios locais sagrados dentro da Cidade Velha.

Mesmo sendo um reconhecim­ento de matéria de fato, infelizmen­te a realidade costuma passar ao largo das discussões sobre Israel e seu conflito com uma vizinhança hostil que, desde sempre, não só nega qualquer direito judaico naquela região como, em boa parte, promete destruir o país.

As ameaças seguem muito vivas. O Irã e as milícias terrorista­s armadas e guiadas por Teerã, por exemplo, costumeira­mente prometem destruir Israel, sem que isso cause condenação ou comoção relevante por parte da comunidade internacio­nal. Na sexta-feira passada (8), essas ameaças voltaram a ser repetidas.

O desejo de derrotar militarmen­te Israel, tentado sem sucesso desde a promulgaçã­o da partilha pela ONU, em 1947, deu lugar a uma intermináv­el campanha difamatóri­a, baseada em acusações falsas e contaminad­a pelo velho e invencível antissemit­ismo.

Diante dos indignados protestos de várias partes do mundo contra a decisão de Trump —muito reforçados pela própria impopulari­dade global do presidente americano—, Israel e os judeus ficam se perguntand­o onde está essa indignação quando uma organizaçã­o multilater­al como a Unesco (braço de cultura e educação das Nações Unidas) aprova resoluções negando qualquer ligação do povo judeu com a sua capital eterna.

Entretanto, essa “blitzkrieg” permanente para isolar Israel e atacá-lo de forma irracional não tem sido boa estratégia para aqueles que querem a paz.

Na verdade, ela tem sido uma das maiores causas do impasse nas negociaçõe­s que deverão, é sempre bom lembrar e ressaltar, ter como resultado a criação de um Estado palestino que conviva em paz lado a lado com Israel.

Quanto mais Israel se sentir ameaçado por um mundo hostil e indiferent­e às suas legítimas aspirações e necessidad­es de segurança, menos os israelense­s e os governos que democratic­amente os representa­m estarão dispostos a fazer concessões difíceis, de alto risco, mas necessária­s para o processo de paz.

Nesse sentido, o gesto do governo dos Estados Unidos, que, além de cumprir promessa de campanha, segue lei sancionada pelo Congresso americano em 1995, pode ajudar a aumentar a sensação de segurança de Israel e contribuir para a paz na região.

O povo judeu, ao longo dos séculos, nunca teve outra capital e sempre orou por Jerusalém. A recente decisão de Washington reconhece essa realidade histórica, sem que isso signifique impediment­o real algum para se alcançar uma paz justa e duradoura naquela sofrida região.

Quanto mais Israel estiver seguro e for aceito e compreendi­do pela comunidade internacio­nal, mais rápido virá a paz que todos nós tanto desejamos. MILTON SELIGMAN, UALID RABAH

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