Economistas sugerem que ‘empurrão’ é necessário
Em países europeus e EUA, regras dispensam decisão dos indivíduos
Governos e entidades brasileiras começam a adotar ações de educação financeira e incentivo à poupança
“Poupar para o futuro é algo que vai contra a natureza do ser humano”, diz o economista Paulo Costa, doutorando em Economia em Harvard e autor do livro “Aprendendo a Lidar com Dinheiro”.
Um dos principais campos de estudo de Costa é como fenômenos psicológicos e comportamentais afetam as decisões financeiras das pessoas.
“Os homens das cavernas passaram muitos anos consumindo imediatamente tudo que caçavam.” Com o aumento da expectativa de vida, segundo ele, a necessidade de pensar no amanhã cresceu muito rapidamente.
“Nosso cérebro não se ajusta na mesma frequência que a tecnologia avança. Comer um pedaço de pizza agora parece muito mais atraente do que esperar para comê-lo daqui a 40 anos, quando irei me aposentar.”
Se a decisão é difícil para os indivíduos, governos têm chamado para si a tarefa de decidir por eles —no que é conhecido como “paternalismo libertário” por economistas e cientistas políticos.
Há países nórdicos em que a previdência privada é obrigatória e, nos EUA, a adesão ao fundo de pensão da empresa é automática, estratégia conhecida como “nudges” (“cutucões” ou “empurrões” que estimulam a ação ou dispensam decisão).
Para Ricardo Brito, do Insper, o forte imediatismo brasileiro e a baixa instrução financeira revelados pelo Datafolha pode indicar a necessidade dessas políticas.
Na pesquisa, só 14% dos empregados registrados ou funcionários públicos disseram ter previdência privada.
Entre os do setor informal ou que trabalham por conta própria, a fração cai para 8%.
Paulo Costa enumera características brasileiras que, em comparação com outros países, incentivam menos a poupança: “Há universidades públicas gratuitas. O sistema de aposentadoria é um dos mais generosos do mundo. E o sistema de saúde, embora falho, existe e atende parcela da população”.
Poupar é difícil para todos, diz o professor da Universidade de Zurique Guilherme Lichand. “Mesmo executivos e professores universitários têm dificuldade de tomar essas decisões como deveriam, já que o custo de poupar cai no presente, e os benefícios só aparecem no futuro.” ‘PSICOLOGIA DA POBREZA’ O estudo feito por Brito mostrou imediatismo forte em todas as faixas da população, mas maior entre os menos escolarizados e de baixa renda. Uma explicação pode ser a “psicologia da pobreza”, mostrada em experimentos internacionais recentes.
“A preocupação com as contas no fim do mês captura atenção, memória e controle de impulsividade, fazendo focar o curto prazo e co- meter erros que perpetuam a pobreza”, afirma Lichand.
O economista está por trás de um dos primeiros projetospiloto de “nudges” na esfera federal no Brasil: cerca de mil beneficiários do Bolsa Família recebem mensagens de celular concebidas para melhorar o uso do dinheiro e estimular a poupança.
O programa está sendo implementado pela MGov, empresa da qual Lichand é sócio. A avaliação de impacto ainda não tem prazo.
Outra preocupação de governos e organismos como o Banco Central e a Comissão de Valores Imobiliários tem sido a educação financeira. O Brasil teve o pior resultado em teste de conhecimentos financeiros aplicado a alunos do ensino médio em 2015 (leia texto ao lado).
O Estado de Goiás adotou a matéria neste ano, como forma de estimular também o aprendizado de matemática. O livro de Costa serviu como base para os estudos.
A avaliação de impacto fica pronta neste mês. No Rio, entre 2012 e 2014, estudantes que fizeram o curso tiveram notas 30% maiores em operações com frações e juros simples e 100% maiores em juros compostos, comparados a colegas com as mesmas características que não cursaram a matéria.
Embora haja mais Estados interessados, a crise fiscal tem sido um obstáculo. “Estamos buscando parcerias privadas para expandir o programa”, afirma Costa. (AESP) E a maioria dos que conseguem poupar guarda no máximo 10% do que ganha Considerando sua renda individual mensal, em média quanto você poupa você por mês? Até 5% Mais de 5% a 10% Mais de 10% a 20% Mais de 20% a 30% Mais de 30% Não sabe 4 MESMO ENTRE MAIS RICOS E MAIS ESCOLARIZADOS, SÓ METADE POUPA 27