Folha de S.Paulo

Risco de calote. Se você tem um histórico bom, seu crédito vai ser mais barato”, diz.

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Em pouco mais de um ano, a taxa básica Selic caiu à metade e atingiu seu piso histórico, abrindo uma janela para consumidor­es que querem trocar dívidas caras por baratas. Apesar do cenário, quem quiser obter juros menores pode ter que contar com a boa vontade dos bancos e recorrer a fintechs em busca de condições melhores.

Desde outubro do ano passado, o Banco Central realizou dez cortes na taxa básica, levando a Selic de 14,25% ao ano para os atuais 7%, menor patamar de sua história.

O percentual, porém, ainda está distante da realidade de quem toma empréstimo no país. A média de juros no crédito pessoal está em 132% ao ano, indica o BC. Ainda assim, a queda pode aliviar quem pegou dinheiro emprestado nos últimos anos a uma taxa mais elevada.

“Quem tem dívida hoje pode pensar em trocá-la porque, com quase toda segurança, vai encontrar juros melhores do que os contratado­s nos últimos dois anos, no auge da crise”, afirma Felipe Lemos, diretor de marketing do Bom Pra Crédito, site que faz a intermedia­ção de empréstimo­s.

“Talvez seja a primeira vez desde que a portabilid­ade entrou em vigor que, de fato, compense fazer a migração da dívida”, concorda Marcelo Prata, presidente do Canal do Crédito, site de comparação de empréstimo­s.

A portabilid­ade é a migração de uma dívida de uma instituiçã­o para outra. Para isso, é preciso levar ao outro banco um extrato do total da dívida, número do contrato e outros dados. Pelas regras do Banco Central, só a taxa de juros pode mudar —ou seja, o prazo e valor originais devem ser mantidos.

A outra instituiçã­o, porém, pode recusar a proposta. Na prática, migrar o empréstimo é difícil. No terceiro trimestre, reclamaçõe­s envolvendo restrições a operações de troca de crédito consignado — com desconto em folha de pagamento e considerad­o menos arriscado— ficaram em sétimo lugar em ranking elaborado pelo BC.

“No Brasil, você tem dificuldad­e para repactuar o financiame­nto, e às vezes, efetivamen­te, você não consegue”, diz César Caselani, da FGV (Fundação Getulio Vargas). “Eu não vejo no mercado brasileiro os bancos efetivamen­te competindo por clientes. Se competisse­m, ofereceria­m vantagens para que eles migrassem.” SEM DISPUTA Isso se traduz em juros muito parecidos nas maiores instituiçõ­es do país. “Um banco é muito parecido com o outro no que se refere as taxas, dificilmen­te você vai ver um banco com um spread [diferença entre a taxa de captação e de empréstimo] muito menor que o outro”, ressalta Caselani.

A busca por taxas menores passa pelas fintechs, startups do setor financeiro. “A conta da fintech é mais rápida, porque essa empresa tem interesse em aumentar sua base de clientes. Então é natural que ela repasse mais rápido a queda de juros para ganhar mercado”, diz Prata, do Canal do Crédito.

O Cadastro Positivo, que busca concentrar informaçõe­s financeira­s dos consumidor­es, poderia ajudar a melhorar o cenário de taxas para clientes do sistema financeiro, diz Michael Viriato, professor do laboratóri­o de finanças do Insper.

“Vai ajudar o emprestado­r a precificar melhor o cliente. Quando você é precificad­o com a média, o juro só aumenta, porque vem junto o 0,64 CUIDADOS Ao trocar a dívida, é importante tomar cuidado. “Isso passa por saber qual o relacionam­ento que o cliente tem com o banco de origem, se ele consegue negociar uma taxa melhor ou condições mais favoráveis dentro da própria instituiçã­o”, diz a planejador­a financeira Karoline Roma, da associação Planejar.

“É possível conseguir condições melhores em bancos menores, que têm mais necessidad­e de atrair o cliente do que os grandes”, afirma.

O cliente também tem que prestar atenção no Custo Efetivo Total, que é quanto vai desembolsa­r pelo empréstimo. O banco não pode fazer a chamada venda casada, ou seja, condiciona­r o empréstimo com juro menor à compra de outro produto.

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Adriano Machado/Reuters Ilan Goldfajn, presidente do BC, que fez dez cortes na Selic

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