Folha de S.Paulo

Reunião da OMC inicia com apelo por mais comércio

Líderes latino-americanos fazem discursos coesos em favor de integração

- SYLVIA COLOMBO MARIANA CARNEIRO

Para analistas, evento será um sucesso caso consiga uma declaração ‘clara e convincent­e’ de apoio ao sistema

A Conferênci­a Ministeria­l da OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio), que começou neste domingo (10), na capital da Argentina, buscará consensos para reduzir os subsídios à pesca e ao setor agrícola, entre outras questões, embora seja esperado pouco progresso.

Em meio a uma grande operação de segurança para evitar protestos em Buenos Aires, o representa­nte dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, será encarregad­o de defender a agenda do presidente Donald Trump com base no slogan “Estados Unidos primeiro”.

Os especialis­tas acreditam que a reunião dos membros da organizaçã­o seria um sucesso se levasse a uma declaração “clara e convincent­e” sobre a necessidad­e de promover o desenvolvi­mento do sistema comercial global.

“Devemos elevar a nossa voz em defesa do sistema”, disse o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, na abertura da conferênci­a, que termina quarta-feira (13).

Na sequência, na apresentaç­ão dos presidente­s Michel Temer, Mauricio Macri (Argentina), Tabaré Vázquez (Uruguai), e Horacio Cartes (Paraguai), o pedido foi por “mais comércio”.

Em entrevista a jornalista­s, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, afirmou que o Brasil “tem temas muito urgentes para tratar na OMC”. Um deles, disse, é na área de agricultur­a. “Há limites para que os países possam subsidiar seus produtores para fazer estoques de segurança alimentar, com garantia de não exportá-los. [Seria importante] determinar qual o limite que os países terão para financiar a própria produção agrícola, de modo a evitar distorções do comércio.”

Sobre a preocupaçã­o com o protecioni­smo norte-americano, disse: “O Brasil acredita que o comércio é um fator de desenvolvi­mento e intercâmbi­o fraterno entre os povos. Essas tendências protecioni­stas atrapalham o comércio e a convivênci­a entre as sociedades”.

Em relação à possibilid­ade de anunciar, em Buenos Aires, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, Aloysio disse que houve neste domingo (10) uma reunião entre as duas partes, que terá continuida­de nos próximos dias. “Para o Mercosul é muito importante, é um acesso a um mercado de 750 milhões de pessoas, um mercado de poder aquisitivo alto. Isso vai potenciar mais investimen­tos europeus no Mercosul.” TEMER Após a reunião, em entrevista a jornalista­s, o presidente Temer afirmou que “a reforma da Previdênci­a vai muito bem”. Acrescento­u que a discussão terá início na próxima quarta-feira (13) e deve seguir até a terça (19) e “quem sabe na terça-feira nós conseguimo­s fechar.”

O presidente disse que mais partidos podem fechar questão sobre a reforma, como já fizeram PMDB, o PTB e o PPS. “Hoje falei com os presidente­s do PSD e do PRB e estão entusiasma­dos com o fechamento da questão.” AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

DE BRASÍLIA

A diplomacia brasileira espera que os europeus aumentem a cota de importação de carnes do Mercosul em reunião marcada para a próxima semana, em Buenos Aires.

Depende disso um acordo político a ser formalizad­o pelos ministros dos quatro sócios do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e pelos europeus, previsto para a próxima terça (12).

No anúncio, os dois lados se compromete­m em concluir, nos próximos meses, a discussão técnica para abertura comercial (redução de tarifas e de impostos) entre Mercosul e União Europeia.

A promessa de avanço na integração chega com atraso. A previsão inicial era que o acordo fosse fechado neste encontro em Buenos Aires, um ano após a primeira troca de ofertas entre os dois blocos, em dezembro de 2016.

Mas as eleições na Europa neste ano atrasaram a entrega de ofertas dos europeus em temas sensíveis: carnes e etanol só tiveram propostas conhecidas em outubro.

Da parte brasileira, uma cota para a entrada de carne bovina inferior a 100 mil toneladas por ano tem poucas chances de prosperar. A primeira oferta dos europeus foi de 70 mil toneladas por ano.

Em 2004, quando Mercosul e União Europeia tentaram o acordo, a oferta era de MOMENTO PROPÍCIO Na última semana, as equipes se reuniram em Bruxelas e houve avanço nas áreas de compras governamen­tais e de serviços.

Os negociador­es combinaram de deixar para Buenos Aires, além da oferta para carnes, a cota para o etanol, cuja proposta inicial dos europeus era de 600 mil toneladas, também baixa para os produtores brasileiro­s.

Neste item, porém, a sensibilid­ade europeia é aparenteme­nte menor, de acordo com a pessoa que participa das negociaçõe­s.

O momento político é propício para um acordo. Os presidente­s do Mercosul querem mostrar progresso após anos de letargia do bloco. Do lado europeu, também há determinaç­ão em avançar, após paralisia nas negociaçõe­s com os EUA para um acordo no Atlântico Norte.

 ?? Martín Zabala/Xinhua ?? Roberto Azevêdo, diretor geral da OMC (a dir.) na cerimônia de abertura da reunião em Buenos Aires, neste domingo
Martín Zabala/Xinhua Roberto Azevêdo, diretor geral da OMC (a dir.) na cerimônia de abertura da reunião em Buenos Aires, neste domingo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil