Folha de S.Paulo

ANÁLISE Conhecida pelo tipo grã-fina na TV, atriz também teve sólida carreira no teatro

- TONY GOES

Ao longo do século 20, o Brasil teve a sorte de receber um fluxo contínuo de atores e diretores europeus. A maioria veio durante ou logo após a Segunda Guerra, como os italianos Nydia Licia e Gianni Ratto ou os poloneses Ziembinski e Berta Loran.

Eva Todor chegou ainda antes, em 1929, com apenas 10 anos. Nascida na Hungria em uma família judia ligada ao meio artístico, ela gostava de dizer que nunca escolheu ser atriz: escolheram por ela.

A pequena Eva, que já era bailarina na Ópera Real de Budapeste, voltou a estudar balé clássico no Teatro Municipal do Rio com Maria Olenewa. E trocou, por razões óbvias, seu sobrenome de nascença —Fódor— por Todor, que a acompanhar­ia pelo resto de sua vida.

Tornou-se famosa em todo o Brasil tardiament­e, em 1977, ao interpreta­r seu papel mais icônico na TV: a empresária Kiki Blanche, dona de um salão de beleza, na novela “Locomotiva­s”, grande sucesso da Globo assinado por Cassiano Gabus Mendes.

Kiki Blanche era uma socialite expansiva e vaidosa, misturando uma certa futilidade com a habilidade com que conduzia seu negócio. Acabou sendo a matriz para quase todos os personagen­s que Eva Todor fez na Globo.

Só que ela era capaz de muito mais. Dona de uma extensa carreira teatral, começou fazendo comédias leves, aproveitan­do o excelente timing cômico. Mas também se destacou em dramas como “De Olho na Amélia”, de Georges Feydeau, que lhe valeu o prêmio Molière, em 1969.

No cinema suas participaç­ões foram poucas. Mas protagoniz­ou, junto com Oscarito, uma cena antológica na chanchada “Pão, Amor e... Totobola”, de 1960, em que ele finge ser a imagem dela refletida em um espelho.

Eva Todor era também uma das últimas remanescen­tes dos atores que tiveram suas próprias companhias teatrais, que excursiona­vam por todo o Brasil e até por Portugal.

Sua carreira foi longa e estável, sem grandes revezes, acumulando sucessos no palco e na TV. Mas os últimos anos foram difíceis. Não terminou as novelas “Caminho das Índias” (2009) e “Salve Jorge” (2012), ambas de Glória Perez, por problemas de saúde. Desde esta última, não apareceu mais na telinha.

Apesar de ter chegado ainda criança ao Brasil, Eva Todor jamais perdeu o ar de “velho mundo”, presente até mesmo em sua dicção peculiar —que não chegava a ser um sotaque, mas lhe dava todo um charme. Com ela se vai um estilo muito próprio de representa­r, além de uma simpatia irresistív­el. 1964 1969 1970 Cândida Seu primeiro papel dramático De Olho na Amélia Pela qual ganhou o prêmio Moliére de melhor atriz Em Família

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