Folha de S.Paulo

Lições para Tite

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ENFRENTAR TIMES com linha de cinco defensores e outra de quatro no meio-de-campo preocupou Guardiola no ano passado. Hoje, está na lista de coisas a aprimorar de Tite, antes da Copa da Rússia: “Sim, precisamos treinar”, disse o técnico da seleção depois de ouvir a pergunta sobre enfrentar os times da Sérvia e da Costa Rica, que atuam com cinco atrás.

Há um ano, esta coluna tratou de um jogo em que o Manchester City tentou espelhar-se ao Chelsea, de Antonio Conte, que terminou campeão. Usou um 3-4-3 que se tornava 5-4-1 na marcação.

Não deu certo. O técnico Pep Guardiola teve 61% de posse de bola e perdeu por 3 a 1 dentro de casa, no Etihad Stadium.

Neste ano, o City de Guardiola tem o melhor aproveitam­ento do

TIME DE GUARDIOLA

futebol mundial, 15 vitórias e um empate em 16 rodadas no Inglês. O Corinthian­s de Fábio Carille tinha quatro empates a esta altura do Brasileiro. O único empate do Manchester City foi contra o Everton, que jogou com três zagueiros, cinco quando não tinha a bola.

Mas Arsenal, Tottenham e Chelsea foram vencidos usando linha de cinco homens em pedaços das partidas. Sete dos quinze rivais do Manchester City usaram variações táticas que permitiram ver cinco homens em linha, na defesa.

O Manchester City venceu todos, menos o Everton.

Sucesso tão grande, a ponto de José Mourinho desistir de usar o sistema 3-4-3 (5-4-1), utilizado em três de seus últimos cinco jogos.

Se Mourinho desistiu de jogar com linha de cinco contra Guardiola, é porque o técnico catalão, que apanhou do Chelsea há um ano, já tem o antídoto. O remédio inclui paciência para rodar a bola no ataque, inversão do lado da jogada e chutes de fora da área.

Contra o Arsenal, o Manchester City trocou passes por dois minutos antes de finalizar de longe. No rebote, com o Arsenal desarticul­ado, De Bruyne tabelou e fez o gol

CINCO NA DEFESA

do bico da grande área.

Tite encontrou-se com Pep Guardiola nesta semana. Mais importante do que a conversa é o entendimen­to de Tite de que precisa melhorar as alternativ­as de ataque do Brasil para enfrentar defesas que se fechem com cinco zagueiros e quatro meio-campistas.

Quem vai ajudar Tite a sair da marcação fechada pelas linhas de cinco beques e quatro meias não é Guardiola. O técnico catalão nunca entregaria seu segredo. A conversa é boa, mas o melhor cenário é dialogar com Gabriel Jesus, com Neymar e com Coutinho, que jogam todas as semanas contra sistemas de defesa assim.

Muito melhor conversar com os três do que com Paulinho e Renato Augusto, porque o campeonato com mais variações táticas neste momento é o inglês. Não é o italiano, como na década de 1980.

Muito menos o espanhol, onde Real Madrid e Barcelona deixaram de lado o esquema 4-3-3 para atuarem com duas linhas de quatro jogadores. Mas não enfrentam cinco defensores com quatro meio-campistas à frente.

O Brasil enfrentará Costa Rica e Sérvia com sistemas assim. Isto se Vladimir Petkovic, da Suíça, não decidir também testar variações táticas assim daqui até a Copa. Jogar com cinco atrás não é sinal de modernidad­e. Mas é uma tendência que aparecerá na Copa do Mundo e que o Brasil precisará saber sair da arapuca, como Guardiola aprendeu de um ano para cá.

Jogar com cinco atrás é uma tendência que vai aparecer na Copa e o Brasil precisará saber sair da arapuca

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