Folha de S.Paulo

ANÁLISE Veto culmina dois anos de ‘febre russa’ e ajuda Putin

- NELSON DE SÁ

Rússia não irá à Olimpíada de Inverno

O veto à participaç­ão da Rússia nos Jogos de Inverno na Coreia do Sul culminou o cerco de dois anos que, no início, visava barrar a presença do país na Olimpíada do Rio.

A campanha continua, questionan­do que o país sedie a Copa de 2018, mas perdeu força sem o engajament­o do “New York Times”, que encabeçava noticiário e opinião sobre o assunto.

Agora se ouvem vozes periférica­s, caso do jornal “The Australian”, que afirmou que, “se a Fifa não fosse uma organizaçã­o avessa à integridad­e, rescindiri­a os direitos da Rússia de sediar a Copa”.

A justificat­iva é que o organizado­r do torneio, o ex-ministro de esportes Vitali Mutko, foi banido pelo COI.

Mas Mutko faz piada, dizendo que a vexatória seleção russa de futebol é prova de que o doping não é generaliza­do e de que a Rússia não pode sofrer punição coletiva.

No dia 4, o “NYT” ecoou em editorial o membro do COI Richard Pound, para quem “todos na Rússia são cúmplices” de doping e devem sofrer as consequênc­ias.

O texto argumentav­a que a punição coletiva, “já é aplicada noutras instâncias do esporte”, por exemplo, quando atletas de revezament­o perdem medalhas pelo doping de um deles.

Pound escreveu em 2015 o relatório que iniciou a campanha, com declaraçõe­s no “NYT” em que propunha o banimento do atletismo russo dos Jogos do Rio.

Afirmou então que a Rússia mantinha a “atitude dos dias da Guerra Fria” e acusou o diretor de um laboratóri­o antidoping moscovita de pedir e aceitar propina.

Um mês antes das Olimpíadas, o russo Rodchenkov denunciou um esquema estatal de doping nos Jogos de Inverno na Rússia, em 2014.

O COI não vetou a Rússia no Rio, mas essa denúncia resultou no veto em 2018.

O cerco à participaç­ão da Rússia em eventos esportivos avançou paralelame­nte à “febre russa” —como os opositores de Putin se referem às denúncias contra o país na imprensa americana. Eles alertam que as acusações em série têm como efeito tornar Putin mais popular.

Em 2018, além da Copa, o país tem eleição. Putin já se lançou candidato e autorizou os atletas a competirem na Coreia, sob bandeira neutra.

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