Folha de S.Paulo

Ligações perigosas

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RIO DE JANEIRO - O ex-governador Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, hóspedes da Cadeia Pública José Frederico Marques, no bairro carioca de Benfica, prestaram vestibular para o curso à distância de teologia oferecido pela Fabapar (Faculdades Batista do Paraná). Foram aprovados e já se matricular­am. Nas grandes universida­des, a teologia é um bonito curso. Trata da natureza de Deus e de sua relação com o homem e com o universo. O currículo inclui sociologia, antropolog­ia, história, interpreta­ção de textos, hebraico e uma ou duas línguas mortas.

Mas, em faculdades menos tradiciona­is, a teologia pode ser apenas o estudo dos princípios de uma religião, destinado a formar pastores para a dita. Não sei qual delas foi escolhida por Cabral e madame, mas, devido ao adiantado da hora, talvez tenham dado preferênci­a à última. Não importa. Os dois cursos têm em comum o apego ao texto-base, a Bíblia. Aliás, recomenda-se que os alunos tenham sempre à mão uma Bíblia, para o caso de ocorrer uma dúvida sobre a cor de algum cavalo do Apocalipse ou coisa assim.

Os pastores formados por este curso estarão aptos a incentivar os jovens na sua formação espiritual, orientar famílias em crise religiosa ou moral e cooperar com as autoridade­s na erradicaçã­o da pobreza e no estímulo ao desenvolvi­mento nacional. Só isto deveria ser razão suficiente para estudar, mas Cabral tem outros objetivos —a simples conclusão do curso abaterá 24 dos 72 anos a que ele está condenado até agora.

Este foi um dos motivos pelos quais, ao vir ao Rio outro dia, o expresiden­te Lula escondeu ao máximo sua antiga ligação com Cabral, os muitos negócios que fizeram juntos e o apoio que um deu ao outro durante os anos de seus governos.

É que Cabral pode estar se tornando pastor. E Lula não mistura política com religião. ANTONIO DELFIM NETTO ideias.consult@uol.com.br

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