Folha de S.Paulo

Homem-bomba responderá por terrorismo

Bengalês Akayed Ullah, que amarrou explosivo a seu corpo em Nova York, pode ser condenado à prisão perpétua

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Jovem que afirma ter agido ‘pelo Estado Islâmico’ se radicalizo­u a partir de 2014, vendo vídeos on-line da facção

Promotores americanos acusaram nesta terça-feira (12) o bengalês Akayed Ullah, 27, de terrorismo por usar uma arma de destruição em massa na explosão que atingiu um terminal de transporte público em Nova York na véspera e deixou três feridos.

Além de terrorismo, a lista de acusações federais contra Ullah inclui as de apoio a uma organizaçã­o terrorista estrangeir­a, tentativa de explosão de um local público, uso de um dispositiv­o de destruição e destruição de propriedad­e por explosão.

A polícia de Nova York informou que Ullah também será processado com base na lei do Estado de Nova York. Espera-se, no entanto, que as acusações federais, para as quais a sentença máxima é a prisão perpétua, se sobreponha­m às estaduais.

Ullah, que também ficou ferido após a explosão, disse à polícia depois do ataque que agiu “pelo Estado Islâmico”, de acordo com documentos judiciais apresentad­os a um tribunal na terça.

O bengalês teria se radicaliza­do a partir de 2014, quando começou a ver conteúdo pró-Estado Islâmico na internet. A motivação para o atentado frustrado, segundo os promotores, teria sido a irritação do autor com políticas dos EUA no Oriente Médio.

Na semana passada, o presidente americano, Donald Trump, anunciou a decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, despertand­o críticas da comunidade internacio­nal e uma onda de violência no Oriente Médio.

Não há até o momento evidência de que Ullah estivesse em contato direto com qualquer grupo terrorista ou militante específico. Os investigad­ores acreditam por ora que se trate de um lobo solitário, radicaliza­do paulatinam­ente na internet.

Ullah contou aos investiga- dores ter pesquisado na internet sobre fabricação de bombas caseiras por um ano. O bengalês afirmou ter comprado todos os materiais narede, exceto o tubo, que ele disse ter recolhido em um local de Manhattan onde trabalhou como eletricist­a. MENSAGEM PARA TRUMP Segundo relatou aos policiais, ele montou o explosivo uma semana antes do ataque, em sua casa, no Brooklyn, onde morava com a mãe, a irmã e dois irmãos. Ullah escolheu um dia útil para maximizar o impacto da ação.

Na manhã desta segundafei­ra, Ullah havia postado em sua página numa rede social: “Trump, você falhou em proteger sua nação”.

O passaporte do bengalês, que era residente legal nos Estados Unidos, tinha notas escritas à mão, incluindo uma ameaça em letras maiúsculas: “O AMERICA, DIE IN YOUR RAGE” (América, morra em sua raiva).

Depois do ataque em Nova York, Donald Trump declarou, em nota, que o episódio reforça a necessidad­e de uma reforma na política imigratóri­a dos Estados Unidos:

“A América precisa consertar seu sistema imigratóri­o frouxo, que permite que muitas pessoas perigosas e que não passaram por triagem adequada tenham acesso ao nosso país”.

A Suprema Corte americana permitiu na semana passada que entrasse em vigor o controvers­o decreto antiimigra­ção de Trump, que veta a entrada de cidadãos de seis países de maioria muçulmana —Chade, Irã, Líbia, Somália, Síria e Iêmen.

No fim de outubro, um homem de origem uzbeque invadiu uma ciclovia em Manhattan com uma caminhonet­e e matou oito pessoas, das quais cinco eram turistas argentinos que haviam viajado para Nova York para comemorar seus 30 anos de formatura. MULHER E FILHO Investigad­ores em Bangladesh também interrogar­am nesta terça-feira, em Daca (capital), a mulher de Ullah. Detalhes não foram divulgados, mas um policial disse à Reuters sob condição de anonimato que o casal tem um filho de seis meses.

O chefe de polícia de Bangladesh afirmara na segunda-feira que Ullah não tinha ficha criminal no país, onde esteve pela última vez em setembro deste ano.

Um primo de Ullah de prenome Ahmad, localizado pela Reuters na terça-feira, afirmou que o pai do suspeito se mudou com a família de Chittagong para Daca muitos anos atrás.

Há cerca de cinco anos, o pai de Ullah morreu, e o suspeito teve uma educação normal em escolas públicas de Bangladesh antes de emigrar para os EUA —a data da viagem não foi informada.

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Seth Wenig/Associated Press Policiais fazem patrulha em terminal rodoviário de Nova York em que homem detonou bomba de fabricação caseira na segunda (11), deixando três feridos

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