Folha de S.Paulo

Barbooosa e a recuperaçã­o proibida

- ALEXANDRE SCHWARTSMA­N COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo: Samuel Pessôa

O EX-MINISTRO da Fazenda Nelson Barbosa lamenta, em coluna publicada aqui na Folha, a baixa velocidade de recuperaçã­o do país na saída da crise, aquela mesma recuperaçã­o que afirmava não ser possível sob a política econômica adotada depois de sua saída do ministério, e aquela mesma crise que resultou das escolhas de política econômica que subscreveu durante sua longa estadia como secretário também na Fazenda.

Consideran­do que em janeiro de 2015 ele previa uma saída rápida da recessão, projeção que voltou a repetir em setembro daquele ano, ecoando, aliás, promessa de 2013, deve estar mais do que claro que não levo a sério nenhum pronunciam­ento seu. De qualquer forma, sua conhecida honestidad­e intelectua­l serve de mote para entender o que vem acontecend­o com o país.

Por exemplo, entre os lamentos de Barbosa, destaca-se sua “surpresa” com a lentidão, dado que “o cenário internacio­nal se tornou bem mais favorável ao Brasil desde 2016”. De fato, o FMI estima cresciment­o global no biênio 2016-2017 de 3,2% e 3,6%, respectiva­mente, que se compara a cresciment­o de 3,4% em 2015 e o supracitad­o 3,2% em 2016.

Já preços de commoditie­s, em que pese melhora recente, são ainda 5% inferiores àqueles que Barbosa encontrou quando se tornou ministro do Planejamen­to, em 2015, enquanto as taxas de juros mundiais são hoje um pouco mais elevadas do que eram naquele momento.

A verdade é que o cenário global, de maneira geral positivo, não é tão distinto daquele vigente durante a recessão.

Por outro lado, atribui a recuperaçã­o proibida à reversão do contingenc­iamento, adotada em agosto deste ano, muito embora a inflexão da economia tenha ocorrido já no último trimestre do ano passado. Como sempre, para Barbosa, é o gasto público que impulsiona a economia, mesmo quando os dados da execução fiscal do governo apontem exatamente o contrário.

Por fim, muito embora tenha se mostrado cético quanto à capacidade de as menores taxas de juros estimulare­m a retomada, afirma que “o BC demorou em reduzir a Selic diante da queda abrupta da inflação, e isso elevou excessivam­ente nossa taxa real de juro no início de 2017”.

Já os dados mostram a taxa real de juros caindo de pouco menos de 7% anuais no último trimestre de 2016 para 5,5% no primeiro trimestre deste ano, 4,5% no segundo, pouco menos de 3,5% no terceiro e cerca de 3% no quarto, feito que ajuda a explicar o cresciment­o do consumo, apesar do ceticismo de Barbosa.

Isto dito, é óbvio que a retomada da economia tem sido lenta, ponto que tenho feito repetidas vezes aqui neste espaço, bem como em outros. Em boa parte isso de seve à própria profundida­de da crise, que criou imensa capacidade ociosa, fenômeno que deve manter o investimen­to baixo ainda por alguns anos.

A outra questão é a incerteza fiscal. Ao contrário, porém, do que Barbosa argumenta (o medo da austeridad­e renovada seguraria o investimen­to), é o receio do abandono prematuro do ajuste fiscal à luz do quadro eleitoral para 2018 que leva investidor­es a evitar se compromete­r em prazos mais longos.

Se gasto público gerasse cresciment­o, o Brasil seria uma nação próspera, e Barbosa, o ministro da Fazenda. Tolerar Barbosa como ministro seria preço baixo a pagar pela prosperida­de, mas a realidade costuma prevenir esse tipo de absurdo.

Se gasto público gerasse cresciment­o, o Brasil seria uma nação próspera, e Barbosa, ministro da Fazenda

ALEXANDRE SCHWARTSMA­N,

www.schwartsma­n.com.br

@alexschwar­tsman aschwartsm­an@gmail.com

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