Facebook deixa de contabilizar na Irlanda parte da receita
Após ser atacada por driblar impostos com planejamento tributário, rede social passará a registrar vendas nos países em que opera
O Facebook se tornou uma das primeiras grandes empresas de tecnologia a reformular sua estrutura tributária e a reduzir a porção de sua receita que é contabilizada na Irlanda, diante da pressão que as multinacionais começam a sofrer para pagar impostos nos países em que operam.
A maior rede social do planeta anunciou que a partir do ano que vem adotará uma estrutura local de vendas.
Os anúncios vendidos serão contabilizados como receita nos 25 países em que ela está estabelecida em todo o mundo, e não em sua sede internacional, na Irlanda.
A decisão pode significar que a companhia venha a ter de pagar impostos mais altos caso contabilize receitas em países como França, Alemanha e Itália. Mas, a depender da maneira pela qual ela contabilize suas despesas em cada jurisdição, pode ser que sua carga tributária total não cresça muito.
A receita com anúncios vendidos por sua plataforma automatizada de venda, por intermédio da qual milhões de pequenos anunciantes adquirem anúncios, continuará a ser contabilizada na Irlanda.
Dave Wehner, vice-presidente financeiro do Facebook, disse que a decisão consumirá “recursos significativos” e que só será concluída no fim do primeiro semestre de 2019.
“Acreditamos que adotar uma estrutura local de venda oferecerá mais transparência aos governos e autoridades de todo o mundo que apelaram por mais visibilidade quanto à receita associada a vendas locais em seus países”, disse.
O Facebook e outras empresas de tecnologia foram acusados por governos europeus e pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que congrega países em sua maioria ricos, de evitar impostos por meio de planejamento tributário complexo.
A Itália propôs um plano para um imposto sobre vendas digitais, no mês passado, que forçaria anunciantes que compram publicidade no Google e Facebook a reter na fonte 6% dos valores pagos, a serem recolhidos pelo Tesouro italiano.
Bruno Le Maire, ministro das Finanças da França, apelou neste ano para que a Europa se afirmasse e “fizesse com que Google, Amazon e Facebook paguem o que devem ao contribuinte europeu”.
Empresas que usam o “duplo irlandês”, controvertida lacuna tributária empregada para reduzir os impostos devidos, estão em busca de alternativas, pois a lei que criou essa brecha expirará em 2020. PAULO MIGLIACCI