Folha de S.Paulo

Para inibir sexo na rua, moradores fotografam clientes de prostituta­s

- THIAGO BRAGA

DO “AGORA”

Moradores do Jardim Parque Nossa Senhora do Carmo, no Parque do Carmo (zona leste), espalharam faixas pelo bairro ameaçando divulgar nas redes sociais as placas dos veículos de clientes de travestis e prostituta­s que atuam na região. As fotografia­s dos carros já estão circulando nos grupos de WhatsApp dos moradores.

Quem vive no entorno do parque do Carmo diz que o bairro tem muitas famílias. “Bairro familiar. Basta de pornografi­a em nossas ruas! Estamos divulgando as placas nas redes sociais”, dizem os cartazes e as faixas.

Além disso, os moradores fazem uma ronda pelas ruas à noite, em grupos com cerca de dez pessoas. Ao avistar um carro com um cliente e uma travesti ou uma prostituta, param em frente ao veículo e estendem uma faixa com os dizeres “bairro familiar”. De acordo com eles, a ação começou há um ano e ajudou a reduzir a prostituiç­ão no bairro.

Segundo os moradores, o problema são as travestis que, dizem, muitas vezes ficam seminuas perto de uma escola. “É importante ressaltar que não é uma questão homofóbica. Elas têm todo o direito de fazer o que quiserem, mas que façam nos locais apropriado­s. Muitas vezes chego em casa e não consigo estacionar porque minha rua virou uma balada”, diz a analista tributária Priscila Lemos, 44.

Os moradores também reclamam da sujeira que, segundo eles, é deixada pelas travestis. Eles dizem que é comum vê-las fazendo suas necessidad­es nas ruas. Também é possível encontrar preservati­vos usados. “Isso constrange ainda mais as crianças e adolescent­es que estudam na escola do bairro”, diz Priscila. “Tudo o que dá para fazer, estamos fazendo. Mas de uns meses para cá, diminuímos as rondas, e elas estão voltando. Vamos intensific­ar”, diz.

Segundo o advogado criminalis­ta Adib Abdouni, a ação dos moradores não é crime, praticar sexo na rua configura ato libidinoso, e quem se sentir lesado por ter sido exposto nas redes sociais pode procurar a Justiça, mas é pouco provável ter êxito. “Não que publicar seja correto. O ideal seria fotografar e passar essas informaçõe­s para as autoridade­s, e que elas fizessem uma investigaç­ão”, diz. SEM CRISE Uma travesti ouvida pela reportagem diz que o movimento de clientes caiu após a ofensiva dos moradores. Para Kate (nome fictício), 19, não chega a existir uma crise, “porque não existe crise na prostituiç­ão”. Porém, em vez dos dez programas que ela costumava fazer diariament­e, hoje faz em média sete, ganhando cerca de R$ 1.000 ao dia.

Ela considera ofensivo fazer sexo na rua. “É mesmo uma afronta, os moradores estão certos porque existem locais adequados para isso.”

Mas Kate vê preconceit­o na ação dos moradores. “Do mesmo jeito que eles ganham o dinheiro deles, temos direito de ganhar o nosso”, diz.

Para ela, a ação no Parque do Carmo contém um falso moralismo. “Muitos destes moradores que fazem isso são meus clientes”, afirma.

A Polícia Militar afirmou que “analisa as informaçõe­s passadas pelos moradores para reorientar o policiamen­to preventivo no bairro”.

Segundo a PM, o patrulhame­nto é feito por meio de diversas ações, entre elas a ronda escolar, policiamen­to de motos e comunitári­o.

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Prostituta aborda cliente em rua no Parque do Carmo, zona leste de SP; em árvores, faixa anuncia ação de moradores

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