França quer ‘bolsa de valores’ verde para atenuar prejuízo climático
Estudo foi solicitado por Macron a grupo de economistas e deve ser apresentado em 2018
O maior desafio será incluir as principais economias globais, condição necessária para iniciativa decolar FOLHA
O presidente da França, Emmanuel Macron, promoveu nesta terça-feira (12) uma cúpula para celebrar os dois anos da assinatura do Acordo de Paris e colocar o dedo na ferida da discussão mais desafiadora sobre o clima: como financiar a transição para uma economia de baixo carbono, mais verde.
Com a presença de chefes de Estado da Europa e da África próximos à diplomacia francesa, um membro do alto escalão do governo chinês, além de personalidades e uma delegação americana com figuras como Arnold Schwarzenegger, o atual governador da Califórnia, Jerry Brown, e o exprefeito de Nova York Michael Bloomberg, o evento apostou em uma mensagem política que desafia a posição americana de abandonar o Acordo de Paris e coloca a França como protagonista das questões climáticas.
(No entanto, a ausência da chanceler alemã Angela Merkel, vista como parceira no protagonismo climático, foi estranhada pelos presentes.)
Entre os anúncios que, embora pouco explícitos, empolgaram os presentes estão fundos de adaptação ao clima e de compensação por desastres climáticos regionais, investimentos em tecnologias e negócios de baixo carbono.
Um anúncio do Banco Mundial analistas analistas por sua concretude: a organização se comprometeu a atribuir um preço (taxa) de US$ 40 por tonelada de carbono emitida nas atividades que financia.
A medida, conhecida como precificação de carbono, visa desencorajar economicamente as emissões das atividades econômicas. Porém, a solução é vista como polêmica por encarecer economias dependentes de fontes fósseis. PRECIFICAÇÃO POSITIVA Como alternativa à taxação, o governo francês está considerando a “precificação positiva” de carbono, que incentiva as atividades que reduzem as emissões de carbono ou o capturam, como negócios do setor florestal e de energias renováveis.
Há um mês, a Presidência francesa encomendou um estudo a um grupo de renomados economistas (entre eles o Jean Charles Hourcade e Dispak Dasgupta), conselheiro do Fundo Verde do Clima.
O grupo deve entregar no primeiro semestre de 2018 uma proposta para alavancar a precificação positiva.
A reportagem da Folha teve acesso à primeira versão da proposta, que reúne argumentos e recomendações para alavancar um mercado de incentivos à economia de baixo carbono.
A proposta atribui valor financeiro à redução de emissões, criando para isso Certificados de Redução de Emissões, que valeriam como uma nova moeda, podendo ser negociados no mercado de ações.
Para funcionar, a nova moeda dependeria de um “fundo garantidor” estatal, uma espécie de fiador que daria credibilidade ao novo mercado.
Entusiastas da precificação positiva se reuniram durante a cúpula de Macron e criaram a Aliança 108, em alusão ao artigo 108 do Acordo de Paris, que “reconhece o valor social e econômico das reduções de emissão de carbono”.
Um dos membros da aliança é o secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Alfredo Sirkis. Para ele, a vantagem da precificação positiva é atuar como um incentivo em vez de uma punição. “Taxar a emissão de carbono é usar um chicote, mas também precisamos dar a cenoura, para encorajar a redução de emissões”, compara.
Uma vez criados, os títulos de redução de emissões devem valorizar, na avaliação de Sirkis, pois têm valor intrínseco. “A redução de emissões é imperativa para evitarmos uma catástrofe global, com prejuízos da ordem de trilhões”, enfatiza.
“Ousada e radical, a proposta tem uma execução complicada”, avalia o economista da USP, José Eli da Veiga. Ele alerta que a solução só funcionaria através de um acordo global —“no mínimo, entre os países do G-20”.