Moeda climática depende de acerto entre governos, diz professor
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Como cria uma nova moeda ao atrelar valor financeiro às reduções de emissões de carbono, a proposta aventada pelo grupo ligado a Emmanuel Macron “dependeria de um acerto entre os Bancos Centrais dos países e aí a discussão precisa chegar no nível do Fundo Monetário Internacional, que é a instituição que dialoga com esses bancos”, avalia o José Eli da Veiga, professor da USP.
Para resolver esse desafio, a primeira proposta enviada ao governo de Macron pela Aliança 108 sugere um “Clube das Finanças Climáticas”, reunindo os atores globais dispostos a investir no incentivo da precificação positiva.
O clube seria uma forma de alavancar as finanças climáticas —emperradas nas negociações diplomáticas da ONU.
Ainda no encontro dessa terça, Macron anunciou uma articulação entre fundos soberanos de países europeus e também entre 23 bancos de desenvolvimento para alavancar recursos para financiamento climático. Para o secretárioexecutivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Alfredo Sirkis, os dois anúncios dão pistas de que há disposição para reunir instituições financeiras em um clube global.
Os representantes brasileiros que atenderam ao evento em Paris já se manifestaram a favor da precificação positiva. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, discursou no encontro e defendeu o incentivo.
Reconhecido nas Conferências do Clima como potência verde —pela cobertura florestal e pelo potencial no uso de energia limpa—, o Brasil é visto como um potencial beneficiário da “precificação positiva”. O país, no entanto, aumentou suas emissões de carbono nos últimos anos, com alta do desmatamento e maior participação de fontes fósseis na matriz energética.
A cúpula chamada por Macron também foi vista por atores internacionais como um complemento necessário à COP do Clima, da ONU.
Para Eli da Veiga, Macron acerta ao trazer as finanças para o centro do debate. Na avaliação de Sirkis, “a COP precisa manter aquele tom sóbrio típico da diplomacia, enquanto Macron puxou um tom mais político e urgente” —o presidente francês abriu o encontro anunciando que “estamos perdendo a corrida contra as mudanças climáticas”.