Folha de S.Paulo

EUA intimaram suspeito de pagar por votos para a Rio-16

Segundo jornal americano, autoridade­s pediram esclarecim­entos a empresário foragido da Justiça brasileira

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O empresário brasileiro Arthur César Menezes Soares Filho, acusado pelo Ministério Público do Rio de participar de esquema de compra de votos para a eleição da capital fluminense como sede dos Jogos de 2016, foi intimado em agosto pela Justiça americana a prestar esclarecim­entos sobre o caso, afirma o jornal “The Wall Street Journal”.

Segundo a publicação, investigad­ores americanos queriam informaçõe­s sobre transferên­cias bancárias que o empresário teria feito relacionad­as à candidatur­a olímpica carioca, conversas que ele teve com membros do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) e contratos que Arthur Soares obteve no âmbito dos Jogos Olímpicos de 2016.

Soares teve mandado de prisão expedido em setembro, durante a Operação Unfair Play, realizada no Rio, e está foragido desde então. Segundo o jornal americano, o empresário estaria em Key Biscayne, na Flórida.

O empresário carioca, que recebeu quase R$ 3 bilhões em contratos assinados durante o governo de Sérgio Cabral, teria realizado pagamentos da ordem de US$ 2 milhões a um membro do COI durante processo de escolha da sede Olímpica de 2016.

O membro em questão é o senegalês Lamine Diack, que presidiu a Iaaf (Associação Internacio­nal das Federações de Atletismo) entre 1999 e 2015. Seu filho, Papa Massata Diack, também fazia a articulaçã­o com Menezes.

A suspeita dos investigad­ores brasileiro­s é que, por causa dos pagamentos, os Diack influencia­riam membros africanos do COI a votaram em peso no Rio em detrimento de Madri, Chicago e Tóquio, também candidatos à época.

O empresário teria feito os pagamentos semanas antes da vitória do Rio na eleição, ocorrida no dia 2 de outubro de 2009, na Dinamarca.

Uma holding sediada nas Ilhas Virgens Britânicas (Matlock Capital Group), que gerenciari­a negócios do brasileiro, teria feito um depósito de US$ 1,5 milhão no dia 29 de setembro daquele ano em uma conta de Papa Massata.

O empresário teria se beneficiad­o ganhando novos negócios relativos aos Jogos Olímpicos. Ele atuou, por exemplo, na construção do Trump Hotel na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. O empreendim­ento começou a ser construído de olho na Olimpíada, mas até hoje não foi totalmente concluído.

Autoridade­s brasileira­s teriam pedido ainda em agosto a prisão e extradição do empresário aos EUA. No entanto, segundo o “The Wall Street Journal”, as autoridade­s americanas pediram mais informaçõe­s sobre as denúncias contra Soares. Ele ainda não é acusado no país.

A intimação teria marcado a entrada das autoridade­s americanas nas investigaç­ões sobre compra de votos para a eleição da Rio-2016. Até então, o trabalho investigat­ivo contava apenas com a participaç­ão de autoridade­s brasileira­s e francesas.

A equipe do FBI (a polícia federal americana) que está à frente das investigaç­ões nos EUA é, segundo o jornal, a mesma que atuou no caso de corrupção na Fifa e nas investigaç­ões sobre o esquema estatal de doping russo.

Dirigente responsáve­l por comandar a organizaçã­o dos Jogos Olímpicos de 2016, Carlos Arthur Nuzman foi preso no dia 5 de outubro com Leonardo Gryner, 64, seu braço direito no comitê organizado­r, também no âmbito da Operação Unfair Play. Eles tiveram habeas corpus concedido dias depois e estão atualmente em liberdade.

Os dois são suspeitos de atuarem junto com Soares na compra de votos para a escolha da cidade para sediar os Jogos. Ambos negam participaç­ão no esquema.

Na história dos Jogos, Nuzman foi o único presidente do comitê organizado­r a acumular também o cargo de mandatário do comitê olímpico do país-sede da Olimpíada.

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Reprodução O empresário carioca Arthur César de Menezes Soares Filho

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