Folha de S.Paulo

Rival argentino é comandado por sindicalis­ta poderoso no futebol

- ALEX SABINO

Para Hugo Moyano, 73, presidente do Independie­nte (ARG), a final da Copa SulAmerica­na vai além do título. Candidato à reeleição, ele é o cabeça da família que espalha tentáculos pelo futebol nacional e sonha em dominar a AFA (Associação do Futebol Argentino).

Esse processo já começou. O atual presidente da entidade é Claudio “Chiqui” Tápia, genro de Moyano. O próprio Hugo quer ocupar o cargo.

Um dos sindicalis­tas mais poderosos da história argentina, ele está afastado da CGT (Confederaç­ão Geral do Trabalho), onde foi secretário­geral por 12 anos. Mas manteve aliados no comando.

“Hugo é Independie­nte acima de tudo. Defende o time em todas as circunstân­cias e tem força para brigar pelos interesses do clube”, afirma o técnico Ariel Holan.

A trajetória de Moyano é parecida com a de Julio Grondona, ex-presidente do Independie­nte que comandou a AFA de 1979 a 2014, quando morreu. Ele também controlava o Arsenal de Sarandí.

“Existe a ideia de que eu seja presidente da AFA, mas a única coisa certa é que não vou deixar o Independie­nte”, disse ele.

A família tem influência em outros quatro clubes menores: Barracas Central (onde Chiqui Tápia é presidente); Alvarado de Mar del Plata, em que seu filho, Facundo, é vice e faz os aportes financeiro­s para pagar as contas; Club Atlético Camioneros de Córdoba e Club Atlético Camioneros, na Província de Buenos Aires.

Os dois últimos são sustentado­s pelo dinheiro do Sindicato dos Caminhonei­ros, de onde vem a origem do poder de Hugo Moyano. Por causa disso, já disse publicamen­te ser a única pessoa capaz de “parar o país.”

O título do Independie­nte seria importante também para Moyano pelo aspecto político. Ele se coloca como oposição ao presidente Maurício Macri e às reformas trabalhist­as que ele propõe. O futebol se torna um caminho para manter uma linha de comunicaçã­o com Macri, que também apareceu na mídia argentina como dirigente esportivo —foi presidente do Boca Juniors.

Moyano precisa fazer pressão política. Há investigaç­ão em andamento sobre associação ilícita e lavagem de dinheiro nos clubes de futebol do Argentina. Seu homem de confiança e guarda-costas Roberto “Polaco” Petrov foi preso junto com 26 barrabrava­s (como são chamados os núcleos violentos das torcidas organizada­s no país).

A vitória no Maracanã é capaz de dar um impulso à ambição de influência política e controle do futebol para o sindicalis­ta, que, no auge do poder, disse na cara da então presidente Cristina Kirchner que ela não foi presa porque seu marido [Nestor Kirchner] havia “se pendurado no saco de um juiz”, ironizando investigaç­ão arquivada pela Justiça.

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